Foto: Amanda Aguiar/Reprodução

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Artistas brasileiros geram R$ 1,6 bilhão no Spotify em 2024, mas cenário independente segue precário

Números impressionam, mas artistas fora do grande circuito comercial criticam a disparidade entre o sucesso nas plataformas e a realidade do mercado

30 de maio de 2025

Texto: 

Pedro Penteado e Vito Forini

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Foto: Amanda Aguiar/Reprodução

O Spotify divulgou nesta quarta-feira (28) que artistas brasileiros geraram mais de R$ 1,6 bilhão em 2024 na plataforma — um salto de 31% em relação ao ano anterior e mais que o dobro do que foi feito em 2021. Os dados foram divulgados na versão brasileira do relatório Loud & Clear 2024, disponibilizado pelo streaming.

O Brasil também ganhou espaço no estrangeiro, com crescimento de 51% nas transmissões de artistas brasileiros fora do país. Mas o mercado principal continua sendo o interno, com 84% das faixas do Top 50 Brasil sendo de grupos nacionais e com 60% de toda a receita mantendo-se em território nacional. Segundo Carolina Alzuguir, Head de Música do Spotify Brasil, essas métricas “dão aos músicos a confiança para transformar esse impulso no próximo single, em uma turnê maior ou em um novo projeto ambicioso.”


Apesar dos números recordes, quem vive no circuito independente segue longe de se sustentar apenas de streaming. Para a artista Luapsy, voz ativa do underground do Rio de Janeiro e vocalista da banda Anjo Pesado, a distribuição da renda produzida é desigual.
“O Spotify pode até ter aumentado a taxa de remuneração para os artistas, mas é inviável sustentar uma carreira musical só com streams”, relata ela. “Podemos enxergar artistas brilhantes, que são independentes, ficarem sem ter o que comer, ralando duro.


Dados disponibilizados no relatório mostram isso em números: Apenas 1.500 artistas ao redor do globo conseguiram alcançar a casa do milhão, indicando que a precariedade para músicos com menos alcance não atinge apenas o Brasil. No que diz respeito ao contexto brasileiro, de acordo com pesquisa divulgada pela Pró-Music Brasil em 2023, 99,2% da receita do mercado fonográfico nacional vem dos streamings, dentre os quais, o Spotify é o mais utilizado. O resultado disso, porém, não é visto na prática: “Há um desequilíbrio gritante nas escalas de remuneração. Isso diz muito mais sobre o sistema do que sobre a arte que estão produzindo”, diz a artista.


Em contrapartida, Carolina, para o Estado de S. Paulo, diz que no ano passado, “60% dos artistas que geraram mais de US$1 milhão de dólares no Spotify nunca apareceram no top 50 mundial”, destacando a capacidade da plataforma em dar visibilidade a artistas pequenos. Essa informação contrasta com a realidade, que de acordo com Luapsy é mais complexa do que um mero acaso do streaming: “A verdade é que o mundo da música é elitizado. No Brasil, quem está em posição de vantagem geralmente é filho de artista, de alguém influente, ou tem um investidor forte por trás.”


Uma das soluções apresentadas pela artista para a situação é a criação “de mais festivais, eventos comprometidos com a arte independente” e a presença “de mais investidores que desejam fomentar o novo.”

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