Entrevista
Festival celebra seu primeiro aniversário com planos para o futuro e indo para outras cidades além da capital paulista
7 de dezembro de 2024
Há um ano, em 11 de novembro de 2023, aconteceu a primeira edição do Banda de Casinha. O evento, que reúne amigos e música independente na intimista casa Algohits, localizada no badalado bairro da Vila Madalena, na zona oeste da capital paulista, deu mais que certo: em pouco mais de 12 meses de existência, já conta com diversas edições realizadas tanto em São Paulo quanto em Santos, Rio de Janeiro e Goiânia.
Idealizado e produzido por Bia Vaccari, jornalista de formação e analista de music business na Algohits, hoje o evento é um dos mais importantes da cena para artistas em crescimento e conta com uma legião de fãs que compartilham da essência vibrante do underground. Bia conversou com o Desconhecido Juvenal.
Bia conta que a ideia para o Banda de Casinha surgiu em um período muito conturbado de sua vida. “Minha única válvula de escape era o LP1 do American Football. Eu ouvi ele repetidas vezes, e foi incrível eles terem vindo pro Brasil logo no ano passado”.
Esse momento se misturou com uma antiga vontade de trazer bandas do interior para tocar na capital paulista. “Eu já tinha o contato na Algohits, então acertar o local foi muito tranquilo, apesar deles terem me dado um voto de confiança incrível pra primeira edição”. Aí, foi só chamar algumas bandas de amigos para o primeiro line-up.
O Banda de Casinha foi a primeira produção de evento feita por Bia Vaccari. Claro que ver a Algohits lotada já foi um baque. Mas essa não foi a principal dificuldade. “Foi o calorão que fez junto à preocupação de deixar todo mundo à vontade”.
Com o tempo, as expectativas — que começaram em zero — foram se alterando. “Eu queria criar um festival pra mim: pra eu ouvir as bandas que eu gosto, com as pessoas que eu gosto, num lugar que eu gosto. Eu jamais imaginava que se tornaria o que ele é hoje, mas é aquilo, né? Quando a gente ama as coisas que faz, elas florescem”.
Um efeito colateral positivo de tudo isso é a promoção da cena independente, uma noção que ainda não é muito clara para a Bia, segundo ela própria. “No próprio dia do aniversário, eu pude ver o alcance que ele teve não só para as bandas, como para o público”.
Ela contou ter recebido muitas mensagens de pessoas que começaram a ouvir música independente justamente por conta do Banda de Casinha — ou que passou a frequentar shows independentes por conta do festival. “Eu acho que isso já faz tudo valer a pena. Vi bandas serem formadas no festival, grupos de amigos que se conheceram, casais”.
É a própria Bia que dá atenção especial à curadoria do evento. “Tudo começa pelo headliner, que geralmente é uma banda de fora, ou com uma agenda mais complicada. A partir do momento em que eu fecho esse headliner, eu vou atrás de bandas que eu penso que os fãs vão curtir. Daí surge um match muito legal”. A organizadora nos conta que não teve nenhuma edição até agora onde a galera conhecia todo o lineup, o que acaba trazendo novos fãs para as bandas.
Não basta ter bons artistas. É preciso de um bom time por trás. Por isso, Bia conta que todo mundo é remunerado pelo trabalho exercido no Banda de Casinha, seja por ficar na porta, no merch, ou discotecando. O mesmo vale para todas as bandas. “Eu confesso que existem edições que é bem difícil mesmo fechar as contas, por isso que um dos meus planos para 2025 é encontrar um investidor que acredite no projeto pra fazer ele continuar rodando”.
No fim da tarde, as luzes alouradas da Algohits criam um clima afável para os passantes
Diante do sucesso conquistado, Bia já faz planos para o futuro do festival. Mas ainda segura as surpresas. “Tem muita coisa legal pra acontecer pro Banda de Casinha em 2025. O que eu posso revelar até agora é que: estaremos presentes em outras turnês internacionais e também vamos pra outras cidades”.
Claro que esses planos não passam só pelo futuro do evento, mas pelo próprio destino de si. Bia Vaccari, que é jornalista de formação, diz que imaginava outra coisa para sua vida profissional desde o começo da faculdade. “A minha vida mudou completamente quando eu tive a ideia de criar o Downstage, e hoje eu sou muito feliz exercendo minha profissão nele. Mas também sou muito feliz por ter me descoberto como produtora no Banda de Casinha”.
Além de conseguir conciliar o site e o evento, Bia conta que existe uma realização muito grande em poder trabalhar com o que se ama. “Hoje, tudo o que tenho na vida é por conta do Downstage — inclusive meu emprego, que não teria acontecido se não fosse o meu site e meu festival”.
Essa paixão é o que motiva a continuação do Banda de Casinha. “Gosto de ver os olhos dos integrantes das bandas quando descem do palco e falam ‘meu deus, Bia, esse foi o melhor show que a gente já fez’, gosto de conhecer as pessoas que frequentam o evento, de ler os relatos nas redes sociais. Eu recebo muitas mensagens depois das edições, e também vem muita gente falar comigo edição após edição”.
Essas pessoas pedem para que o festival nunca acabe. Essas pessoas fazem amigos no evento. Essas pessoas dizem ter conhecido sua nova banda favorita. E essas pessoas dizem se sentir em casa. “É tudo muito forte. Não penso em parar de jeito nenhum”.
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