Entrevista
Projeto tem integrantes espalhados pelo país e fala sobre despedidas tanto em níveis interpessoais como do mundo que conhecemos.
8 de abril de 2025
@fuckgriffith22
@joaozablonski @mt01_photography @renato_ow @fallintotheclick @firefoxexplorer.jpeg
O que acontece quando se faz uma conexão entre Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Pará? Um projeto experimental e apocalíptico obviamente. Cada integrante de ‘a terra vai se tornar um planeta inabitável’ — ou ‘atvstupi’ — está em uma parte do país. Porém, nem os milhares de quilômetros foram capazes de impedir o florescer da banda — o que é curioso, já que, de acordo com os rapazes, em um futuro não tão distante, as flores deixarão de enfeitar o planeta terra.
João Zablonski é do Paraná. Guilherme Oliveira está em São Paulo. Carlos Eduardo fica no Pará e, de volta ao sudeste, Felipe Marré está no Espírito Santo. Os quatro compartilham a energia e o ruído que habitam em seus peitos através de um som melancólico. Instrumentais suaves transmitem sensações de sufoco e desespero, aliado aos vocais que flertam com os sussurros, trazendo memórias da geração de ouro do Shoegaze. É fácil ouvir e associar com Slowdive e My Bloody Valentine.
O primeiro show da banda foi realizado em 25/01/2025, na A porta maldita. Foto: @mt01_photography
O projeto teve suas raízes no X (antigo Twitter) em 2022. Os integrantes mantinham uma amizade virtual e, entre os interesses que compartilhavam, a música estava presente. Eventualmente surgiu a ideia de criar um projeto musical.
João Zablonski é compositor, produtor, vocalista e guitarrista dessa aventura. Ele conta que demorou para o grupo encontrar uma sonoridade legal. “Um dia um mostrei uma composição, um membro da banda arranjou e chegamos até a faixa Aiko Tanaka. A partir daí, mantivemos a sonoridade parecida. Quando a gente percebeu que deu certo, começamos a fazer de forma mais contínua, progredindo, lançando e aperfeiçoando nosso som cada vez mais”, diz.
João conta que tudo foi sempre muito planejado e com o objetivo de refletir sobre a relação de empecilhos do cotidiano com problemas globais. A banda trata esses acontecimentos com extrema importância e busca se atentar às calamidades sociais e ambientais que inevitavelmente afetam as nossas vidas.
Se Carlos decidisse visitar João, ele teria que percorrer mais de três mil quilômetros e levaria em torno de 44 horas de carro. Foto: @renato_ow
João explica que o objetivo sempre foi construir um instrumental mais baixo, suave, buscando trazer uma melancolia que ecoasse na vida das pessoas. Ele ressalta essa busca em aliar as experiências de cada integrante da banda ao que estava acontecendo no momento — e esse contraste define a identidade do projeto.
“Nosso último EP, ‘o fim é um começo’, aborda a situação climática do mundo, as devastações e o calor. Percebemos que alguns jornais diziam que a terra se tornaria inabitável e sentimos que era nossa deixa. O nome da banda carrega esse peso e precisamos colidir a sonoridade com letras que representam temas atuais. Dedicamos os nossos esforços para desenvolver um som que representa o choro do planeta terra”
A composição e a produção da banda são feitas em conjunto: todos os membros apresentam ideias e propostas para novos projetos. João relata que costuma trazer uma ideia e todos arranjam juntos. “Se a música fluir, incluímos no projeto. Caso contrário, ela fica guardada, eventualmente acabamos por utilizá-la em outra oportunidade. Uma das músicas do novo disco estava guardada a um ano e agora vamos usá-la”, diz.
Com mais de dez mil seguidores, João Zablonski tem um bom alcance no X. Foto: @fallintotheclick
Zablonski ressalta que, apesar de fazer a maior parte das composições, mas isso deve mudar já que todos vão cantar na nova formação do grupo. “Quem vai cantar apresenta a sua composição e, assim, fica bem legal”. As maiores inspirações dele vão da banda mineira Lupe de Lupe e seu vocalista Vitor Brauer a projetos estrangeiros como Mineral e, novamente, Slowdive.
Porém, na hora de compor, o objetivo é não se direcionar por influências. “Gosto de me desligar do mundo e tirar algo da minha cabeça. Tento trazer meus pensamentos à realidade. Claro que inevitavelmente eu transpareço algo que consumo nas músicas. No início relacionavam muito a banda ao mangá “Oyasumi Punpun”. O nome da banda foi inspirado na obra e no começo fazíamos referências, porém não nos prendemos a isso”, revela.
“Oyasumi Punpun” é um mangá japonês bastante popular que inspirou a banda. A imagem do protagonista, Onodera Punpun, está presente em algumas capas do projeto. Foto: Inio Asano
No seu EP mais recente, ‘atvstupi’ trouxe Caru, do projeto musical Magnólia, para colaborar no novo lançamento. Segundo Zablonski, Caru apresentou uma dinâmica interessante, que casou muito bem com atvstupi. “Eu chamei o Caru e começamos a conversar um pouco antes de finalizar o EP. ele me mandava umas músicas e depois pedia que escrevesse umas letras. Eu mandava na faculdade mesmo, eu juntava as minhas ideias. Nossa conexão foi imediata. Percebi que estávamos construindo algo especial”, diz, e completa; “Fomos trabalhando, trabalhando e nesse processo entramos no Selo Quituts e dessa forma criamos uma amizade. Pretendo trabalhar mais vezes com ele”.
O EP mais recente de ‘atvstupi’ teve participação de Caru, do grupo Magnólia. Foto: @firefoxexplorer.jpeg
O Selo Quituts, do interior de São Paulo, facilitou o encontro desses dois universos, já que reúne as bandas Magnólia e ‘a terra vai se tornar um planeta inabitável’. “No selo existem artistas do Emo Caipira, Shoegaze, Rock Triste, entre outros. A união trouxe mais força, mais bandas e agora conquistamos mais espaço, fazemos de tudo para expandir a cena”, diz João.
Para ele, as coisas estão fluindo bem. “Esse mês tive três oportunidades de entrevista e fico feliz de ver esse desenvolvimento. É importante ter essa iniciativa de fazer e lançar, grava do jeito que consegue, lança do jeito que pode, o importante é não parar”.
João demonstra muita animação para o futuro — algo evidente na afirmação da banda para os fãs: “Se desde o fim vocês estavam conosco, está na hora de iniciar um novo começo”.
Ele conta que o grupo está explorando diversas sonoridades. “Estamos estudando bastante o que o pessoal gosta de ouvir e o que gostamos de fazer, para unir o melhor dos dois mundos. Estamos analisando o cenário para entender o que leva a galera a nos ouvir”, relata. “Claro que não dá para agradar todo mundo, mas conseguimos conquistar nosso espaço e cativar muita gente”.
Em novembro do ano passado, o grupo lançou “horizontes”, seu novo single, que objetiva passar uma mensagem de confiança e perseverança. Isso vai ao encontro do que conta João, esperançoso com um futuro brilhante e sem olhar para trás. De acordo com ele, esse novo começo é sobre abranger sonoridades que nunca foram exploradas, estudar formas diferentes de lançar um conteúdo e de produzir. “Sempre fui fazendo muita coisa, lançando muita coisa, buscando explorar e aperfeiçoar, estamos analisando o desenvolvimento da cena e as reações do público, com o intuito de mesclar tudo, em busca de uma sonoridade que nos permita ter prazer, proporcionar prazer e abranger sonoridades que a gente nunca explorou.”
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