
Cobertura
Saiba tudo que rolou nesse rolê alternativo ocorrido no último domingo, dia 11/06/2023.
13 de junho de 2023
Naquele início de tarde de domingo (11/06), a segunda edição do Devaneio Festival estava a algumas horas de começar.
Nosso correspondente assistia com alguns integrantes da banda Turmallina ao derby Palmeiras x São Paulo. Os ânimos estavam elevados - seja na espera do gol ou do show.
Mas não demorou muito para que o palmeirense Eduardo pudesse gritar gol. Rapidamente, o jogo se tornou desinteressante para quem não era palmeirense.
Bruno, guitarrista da Cianoceronte, e Ilegas se levantaram para fumar e terminar sua breja encostados num murinho longe da TV.
Dali, o jogo estava baixo e, dessa forma, podia-se ouvir que o show da primeira banda, Florextra, já havia começado

Entrada do Jai Club. Foto por Will John
Assim que entrou um tanto desesperado no Jai Club, abrindo espaço por entre o público, para obter uma visão privilegiada que beneficiasse suas anotações, nosso correspondente se sentiu inundado por um brilho sonoro idílico.
Tratava-se de um cover da música "Mania de Você", de Rita Lee, executado com elegância.
Depois, seguiram tocando as autorais, apresentadas uma a uma pela vocalista Giulia.
Um dos elementos presentes nas composições da banda é a dinâmica, representada em paradinhas na batera, levadas crescentes, e uma voz livre em sua prosódia. Esses e outros elementos são característicos do samba, gênero referência para a Florextra. Em entrevista disseram respirar e ouvir muito samba, além de possuírem referências como João Gilberto e Caetano Veloso.

Foto por Will John
A atmosfera era gostosa de se estar e o ambiente leve, tal qual o processo de criação da banda, descrito como um espaço de muita liberdade criativa. Não à toa, nesse show tocaram uma música surgida esse mês, "Me leva pra casa". Outra possibilidade que um espaço criativo livre dá é a de experimentar timbres e arranjos diferentes. Gabriel contou, "A maioria das músicas ainda estamos testando questão de ritmo e arranjo" e Giulia complementa, "É um laboratório de testar sonoridades, barulhos estranhos".
O público estava engajado, cantando as músicas que conheciam, curtindo o prazer soft do teclado de Alexandre e dançando ao ritmo gingado da bateria de Pepito e à levada de bossa de Gabriel, que por vezes cantava dobrando a voz de Giulia.



Fotos por Will John
A última música do show foi cantada por todas. Um enorme coro repetia o refrão "Eu descobri o Brasil", recém ensinado por Giulia, a gestos leves e voz didática e graciosa.
Formada por Juliana, na voz e violão, Pepito, na guitarra e dança, Gal, no baixo, e Demian, na bateria, Ju e os Caramujos é uma banda dinâmica, com composições narrativas e que mistura referências de diversos gêneros musicais indo do brega ao surf rock e do MPB ao blues.
O repertório da banda foi incrementado com a entrada de Gal, em dezembro de 2022, e Demian, em janeiro de 2023. Eles adicionaram às músicas já existentes modulações, transições e dinâmicas de ritmo, elementos marcantes no som de Ju e os Caramujos hoje. Além disso, esses recursos musicais adicionam unicidade a cada momento da música e tornam perceptível e contundente a mudança entre os seus momentos.

Foto por Will John
O público, por sua vez, impactado, ovacionava os artistas ao final de cada música e, durante elas, dançava ou sozinho ou com seus amantes. O guitarrista Pepito não ficava fora dessa: no palco era animado e se divertia dançando enquanto tocava.
Ju interagia constantemente com a galera, e elogiando seus gritos, "Vocês gritam muito bem!". Além disso, sua interpretação das letras acrescia emoção à performance. Demian, por sua vez, introduzia cada um desses momentos com viradas técnicas e Gal seguia essa trilha com linhas de baixo inventivas


Fotos por Will John

Foto por Ste
Ao final do show, cantaram o tão pedido "clássico". Tratava-se de "Camisa 10", a qual teve o refrão ensinado para quem não conhecia. Quando a música acabou e a pedidos de bis, ela retornou logo ao refrão poderoso "Amor improvisado // Camisa aberta // Peito fechado" digno de um grand finale de espetáculo.

Foto por Will John
Guetto Brass, como o nome diz, é uma Brass Band (banda de metais de sopro) formada por 10 integrantes, cada um vindo de uma quebrada diferente de São Paulo.
Começaram na pandemia, por iniciativa de Paloma (apelidada de "Diretora", com o que discorda), que já havia tocado antes com muitos dos integrantes do Guetto Brass antes. Ensaiavam na casa de Caetano, que toca um instrumento incomum para uma Brass Band: o saxofone.
Daí em diante, novos membros entraram e muitos arranjos foram feitos, apresentando, assim, um repertório variado que vai de desde música internacional, pop até música brasileira como Tim Maia e Titãs.

Foto por Pietro Ivanovich
O amarelo ouro dos metais junto ao All Star amarelo vivo de cada um dos integrantes no palco produziam uma parede sonora brilhante, densa, diversa, poderosa e deslumbrante. A melodia e harmonia dividida entre trompetes, trombones, trompa e saxofone, o ritmo na percussão -que por sinal, era dividida, havendo um músico para caixa e prato e outro para bumbo e agogo - e o baixo na tuba criavam uma cama sonora suficiente para se reconhecer a música e cantar junto.
De todo modo, seus planos para o futuro são composições autorais além de lançamentos para o streaming.

Foto por Will John
Pela primeira vez na noite, subia no palco não só músicos mas também pedais. E quantos! Era a Morro Fuji vinda diretamente do ABC paulista e carregando suas influências de Shoegaze e Dreampop trazidas à vida em músicas com temas marcantes.
Encontram-se ritualisticamente toda semana, senão para ensaiar, para não se desconectarem. Possuem muito em comum como gosto pelo Valorant e fanatismo pelo futebol: uma santista, um corintiniano maluco sofredor, um palmeirense velho chato e dois são paulinos.
Formada por Nicolas "Bigode" e Leleco nas guitarras, Pietro, no baixo, Angela como vocalista e Natan na batera, Morro Fuji vinha tocar mais uma vez em São Paulo, o que em entrevista, descreveram como uma "uma experiência muito louca". Disseram isso porque, na capital paulista, deparam-se com públicos e audiências diferentes das quais estão acostumados no ABC.
Independente disso, a galera balançava o corpo em transe em meio às paisagens sonoras de guitarra complementadas pela voz duplicada pelo baixo nas notas mais baixas. A bateria adicionava o groove a tudo isso.
Foto por Will John
Houve espaço também para um cover, "Tudo que você queria ser", de Milton Nascimento. Todo o contexto tornava a peça especialmente emocionante e a atmosfera que na original era dada pelo órgão de Wagner Tiso, aqui era maximizada pelo som atmosférico e viajante das guitarras ecoantes e permanentes.
Além de relembrarem todos ao Milton Nascimento- que em 2023 se aposenta - houve menção à pandemia, na nostálgica "Depois que o surto passar".
A saideira foi épIca e penetrante. Os sorrisos, quando não ocultados pelos cabelos em frente ao rosto, eram de alegria genuína. Alegria motivada e mantida viva por loopings que faziam parte de um tema, por muitos, inesquecível.




Fotos por Will John
A Turmallina veio de uma frustração com bandas anteriores, se mostrando um ponto de convergência entre gostos comuns: Dream Pop.
Apesar disso, são ecléticos. Possuem um background no emo, Turnover, Basement, Modern Baseball, mas evidenciam a influência em Dreampop, DIIV, MBV, Slowdive. Essas referências se fazem presença marcante no som da banda que envolve o público em camadas sonoras e paisagens sonoras densas.



Fotos por Will John
Tendo Caio e Marcos nas guitarras psicodélicas e de agudo triunfante, May, uma antiga baterista de punk/hardcore que hoje explora sonoridades ásperas e leves, Eduardo num baixo pegado e Rose com um vocal potente, o show de Turmallina é "grudante".
O som que fluía dos poderosos altos falantes e caixas de som grudavam todos em labirintos sonoros dos quais ninguém queria de sair.
O público aplaudia ao final de cada música, até mesmo à nova "Ficou para trás". Sorte de principiante? Ou essa turma é linda mesmo?


Fotos por Will John
Formada por Gal, baixista, Pedro, vocalista, Armando, guitarra, e Lucas, baterista, Chvvv (Chuva) é uma banda de post-rock com influências do emocore e midwest. Cada um desses traços pode ser visto em elementos da banda, sejam sonoros ou visuais.
Vindos desta escola, fazem uma espécie de shoegaze mais explosivo. Contudo, com um detalhe: possuem uma única guitarra. De todo modo, isso não pareceu problema à banda que, com a guitarra amplificada no último volume, 100 guitarras pareciam soar em um som atmosférico que levava à catarse.
Quem estava no front recebia altas doses de dopamina e serotonina misturadas à memórias tristes que faziam com que todos apenas absorvessem tudo aquilo. Sem espaços para gritos e assovios. Apenas a contemplação de algo emotivamente épico e bonito.

Foto por Isadora Vianna
Também tocaram uma versão de "Um Girassol da Cor do seu Cabelo", composição de Milton Nascimento, grande ídolo e inspiração máxima para todos os membros da banda. A voz rouca de Pedro cantava os versos clássicos, enquanto a guitarra, angelical, inaugurava o tema. Ao fundo, a bateria multi-recursiva de Lucas lembrava a riqueza do original.
Mas não é só de momentos belos que vive o homem. Houveram músicas maldosas, no compasso do Sludge Metal, na quais o baixo marcava presença absoluta. Por parte do público, headbangs. Apesar da dor, se divertiam.
Pedro pulava, sentava e deitava, terminando por fim em uma poça de suor. Disse ter dado tudo de si, e a galera, que ao final do show bateu todas as palmas que não tinha gasto, também.
A noite se fechava assim, com uma com uma conexão público-banda digna de aplausos.



Fotos por Isadora Vianna
Mais como esta:

A experiência de um Juvenal em uma tarde ensolarada por São Bernardo do Campo

Entrevista com a professora e ceramista Sueli Massuda – que refutou o pragmatismo das perguntas e respostas, optando por uma prosa sobre cerâmica, imigração e vida

Espaço de acolhimento, consciência política e cultura na Vila Gilda é ponto de encontro no Fundão da Zona Sul