Cobertura

Entre monstros e leques: Lady Gaga faz show histórico nas areias de Copacabana

Após mais de dez anos sem voltar ao Brasil, a Mother Monster reuniu mais de 2,1 milhões de pessoas em show gratuito no Rio de Janeiro

9 de maio de 2025

Texto: 

@ismegabriella

Imagens: 

Reprodução

Depois de 12 anos de espera e mais alguns dias acampados em frente ao Copacabana Palace, fãs de Lady Gaga puderam realizar o sonho de ir ao show de sua diva pop em uma performance gratuita na noite de sábado, dia 3 de maio. Em cinco atos que misturam ópera, pop rock e teatro gótico, Lady Gaga realizou o maior show de sua carreira na praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, ao se apresentar para mais de dois milhões de pessoas.

A última vez que a Mother Monster pisou em terras brasileiras foi em 2012 com a turnê Born This Way, onde fez shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Em 2017, a cantora deveria retornar ao Brasil para uma apresentação no festival Rock in Rio, mas ela cancelou o show devido às dores causadas pela fibromialgia. No último sábado, em meio a performance no evento “Todo Mundo no Rio”, Gaga se desculpou com seus fãs e agradeceu pelo carinho e espera nos últimos anos por meio de uma carta.

Além do palco, a estrutura do show contou com mais 13 telões para que a praia inteira pudesse assistir ao espetáculo que ficou conhecido como “Gagacabana”.

O Manifesto do Caos

“Do Veludo e Vício” é o nome do ato de abertura do show que marcou a carreira de Lady Gaga e do Brasil. A apresentação começou com uma leitura do “Manifesto of Mayhem” (Manifesto do Caos, em português) que representa sua fase atual e faz referência ao seu novo álbum, “Mayhem”.

Em seguida, Gaga apareceu vestida de vermelho em cima de uma gaiola cantando “Bloody Mary” um dos muitos sucessos da cantora em BTW, mas que ganhou fama entre os mais jovens após o lançamento da série Wandinha da Nefflix. Na sequência, a diva pop levou a plateia à loucura ao cantar “Abracadabra”, seu mais novo hit que foi lançado na madrugada do Grammy 2025. Esse fato, foi visto como ousado e celebrado por fãs que sentiam falta da era “esquisita” de Lady Gaga.

“Lady in Red”, Gaga surge em um ‘vestido gaiola’ para cantar Abracadabra [reprodução/ Prefeitura do Rio de Janeiro]

“Judas” foi a terceira música da noite e quando o refrão que marcou gerações começou, ninguém mais estava com o pé no chão. Lançada em 2011, a canção que foi considerada polêmica ao fazer uma sátira a Bíblia Sagrada, não saiu da boca dos fãs e na noite de sábado a nostalgia ganhou espaço em Copacabana.

“ScheiƁe” e “Garden of Eden”, músicas dos álbuns “Born This Way” e “Mayhem” respectivamente, deram continuidade ao primeiro ato.

“Poker Face” foi a música escolhida para fechar a abertura do espetáculo que só estava começando. A performance contou com um duelo em um tabuleiro de xadrez entre a atual fase de Gaga e sua antiga “eu”, caracterizada pelo figurino marcante que a cantora usou no clipe da música em 2008. Ao final deste ato, a versão Mayhem de Lady Gaga, vence o duelo e mata sua versão obsoleta e seus dançarinos a enterram, simbolizando o fim de uma era e o início de outra, o caos.

Lady Gaga e seu xeque-mate do caos [reprodução/ youtube/ multishow]

2° Ato: E Ela Caiu Em um Sonho Gótico

O segundo ato do Gagacabana começou com a Mother Monster acordando ao lado dos restos mortais enterrados de sua finada versão cantando “Perfect Celebrity” que retrata, segundo ela, a relação entre o nosso verdadeiro eu e a versão que mostramos ao mundo. A música é sucedida por “Disease” que explora o autoconhecimento e a luta para superar os medos e angústias. Ambas as canções fazem parte de “Mayhem”.

Na sequência, usando uma armadura de prata e visivelmente emocionada, Gaga fez uma performance de tirar o fôlego de “Paparazzi” um de seus grandes sucessos de carreira.

Um dos pontos altos do show foi quando a diva pop estendeu a bandeira do Brasil e chamou Nicolas, funcionário do hotel em que estava hospedada e seu grande fã, ao palco para traduzir a carta que escreveu para os brasileiros, agradecendo a espera de mais de dez anos e a presença naquela noite.

Para fechar o segundo ato, Gaga cantou o hit “Alejandro” e “The Beast”. Que falam sobre amor de formas distintas.

“O povo do Brasil é a razão pela qual eu posso brilhar. Hoje vocês estão tão vibrantes e lindos quanto o sol e a lua surgindo sobre o oceano, bem aqui na praia de Copacabana. Mas de todas as coisas pelas quais eu poderia agradecer, a que mais me toca é esta: vocês esperaram por mim. Vocês esperaram mais de 10 anos.”

- Trecho da carta que Lady Gaga escreveu para seus fãs

Lady Gaga pede perdão aos fãs pela demora em voltar ao Brasil [reprodução/ youtube/ multishow]

Ato 3: O Belo Pesadelo que Sabe o Nome Dela

Ao som de “Killah” começa o terceiro ato. O baterista conhecido Tosh The Drummer é quem abre a música com um solo que levou a plateia ao delírio e deu um toque de rock para as próximas músicas. Neste momento, Lady Gaga aparece vestindo um body azul com lantejoulas e casaco volumoso da grife italiana Marni.

Na música seguinte, ela troca de figurino novamente, revelando um vestido com mangas bufantes inspirado na estética militar para cantar “Zombieboy”. O que chamou atenção foi a cor inédita do figurino, que faz referência a bandeira do Brasil. Durante a turnê, ela usa o mesmo modelo do vestido, porém na cor azul. Foi a primeira vez que ela mudou a cor da roupa durante toda a turnê.

Com figurino inédito, Lady Gaga homenageia o Brasil ao usar cores da bandeira [reprodução/ youtube/ multishow]

Com a ajuda de um piano com cabeças de caveira, Gaga cantou “Die With a Smile”, parceria da cantora com Bruno Mars que ganhou o Grammy 2025 por Melhor Performance de Dupla/Grupo Pop, junto com a plateia.

“How Bad do U Want Me” foi a canção que finalizou o terceiro ato. Os dançarinos voltaram ao palco com camisetas do Brasil e interagiram com os fãs junto com a cantora. Após isso, uma dançarina vestida de “Lady in Red” - fazendo alusão à letra de “Abracadabra” - apareceu ao som do instrumental da música e dos leques da multidão que batiam em sincronia.

4° Ato: Acordá-la é Perdê-la

Lady Gaga volta ao palco para o penúltimo ato da noite com blazer e short preto. Apesar da roupa aparentemente simples, o ato é vibrante e marcante. A primeira música é “Shadow of a Man” onde a cantora e seus dançarinos prendem a atenção do público ao dançar uma coreografia mais firme.

Logo após, a cantora fez um discurso emocionante agradecendo ao Brasil, em especial a comunidade LGBTQIAPN+. Durante a declaração, Lady Gaga pediu aos fãs que mantenham a positividade, a fé em si mesmos e acima de tudo tenham orgulho de quem são, dando um gancho para iniciar a música “Born This Way” que se tornou um hino para a comunidade LGBT+ desde seu lançamento em 2011.

“Eu nem sempre acreditei em mim mesma. Por muito tempo não acreditei em mim mesma e ainda acordo alguns dias e não acredito, mas vocês tem que acreditar em si mesmos, todos os dias, se puder você tem que tentar. Vocês são tão lindos, eu os amo há tanto tempo. Obrigada por nos trazer de volta, estamos tão felizes de estar aqui. Sua luz brilha tão forte, sua liberdade é tão vasta, sua alegria, seu amor, seu espírito, que ele possa ser ouvido ao redor do mundo esta noite. Eu apenas quero dizer, enquanto estou aqui, do meu amor pela comunidade LGBTQ+ aqui no Brasil, eu amo vocês, obrigado por ensinar a todos nós. Coloque suas patas para cima, porque você nasceu assim.”

- Discurso da Lady Gaga para a comunidade LGBTQ+ do Brasil

“Blade of Grads”, “Shallow” e “Vanish Into You” foram dedicadas aos verdadeiros Little Monsters da cantora. Em meio a lanternas, a plateia cantou em coro todas as três músicas. A última, em especial, foi lançada a 2 meses e cada frase foi cantada, fato que emocionou a diva pop. Lady Gaga agradeceu aos fãs por aprenderem as letras de suas músicas e por aguardarem por tantos anos e outros tantos dias na frente de seu hotel. "Obrigada por cantarem meu novo álbum, Mayhem, todas as noites que eu estava no hotel. Eu ouvi vocês todas as noites, a noite toda, cantando cada letra. Eu amo vocês" disse Gaga.

‘Vocês quem que acreditar em vocês mesmos’, diz Lady Gaga em discurso emocionante para a comunidade LGBT+ do Brasil [reprodução/ instagram / @rdtgaga]

Monstros nunca Morrem

"Eu sou um monstro. Sim, você é um monstro. Nós somos monstros. E monstros nunca morrem." foram as palavras que abriram o Grand Finale do Gagacabana chamado “Ária Eterna do Coração Monstruoso”. O último ato contou com somente uma música, mas não uma música qualquer, “Bad Romance” foi uma das mais aguardadas e mais cantadas pelos Little Monsters da noite. Lá se foi o melhor show da carreira de Lady Gaga e da vida de muitos fãs. Leques bateram, pés saíram do chão, fogos foram lançados, foi uma catarse anunciada, Lady Gaga estava de volta e melhor do que nunca.

O dia em que os Little Monsters invadiram Copacabana [reprodução/ Instagram/ Prefeitura do Rio de Janeiro]

Na manhã do dia seguinte, 4 de maio, foi divulgado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro que um atentado foi programado para matar pessoas LGBTQ+ na praia durante o show. Felizmente, os suspeitos foram identificados e detidos e o ataque não aconteceu. Coincidência ou não, as palavras ditas horas antes pelos Little Monsters pareciam ser um grito de afirmação “Monsters never die”.

Gaga deixou o solo brasileiro às 12h30 do domingo, pelo Aeroporto do Galeão. Após realizar o maior show de sua carreira e da história da música, a Mother Monster fez um post em seu Instagram em agradecimento ao povo brasileiro que a recebeu de braços abertos e quer recebê-la de novo o quanto antes.

Envie sua música