Banda Jonabug tocando em um ambiente escuro. Marília, a vocalista, ao meio; Dennis, o baixista, a esquerda; Carlos, o guitarrista e tecladista, a direita; Samuel, o bateirsta, atrás de todos.

Entrevista Exclusiva

Bug no sistema: a releitura dos anos 90 de Jonabug

Em bate papo com o Desconhecido Juvenal, Jonabug conta sua história e comenta sobre novo lançamento.

16 de agosto de 2023

Texto: 

@mafra

Formada em 2021, a Jonabug é Marilia, na guitarra e no vocal, Dennis, no baixo, Carlos, na guitarra e no teclado, e Samuel, o baterista do cojunto. Todos moradores da cidade também chamada Marília, no interior de São Paulo. O nome da banda vem da junção de "Jonaz", o sobrenome de Marília e Bug (de origem desconhecida) e o seu som é uma mistura de grunge, shoegaze, rock triste e indie, o famoso rock alternativo.

Banda Jonabug dentro do que aparenta ser um quarto com paredes em concreto.

Marília, Dennis, Samuel e Carlos da esquerda para a direita. Foto: Acervo da banda.

Dessa miscelânea distorcida e melancólica nasce uma interessante releitura do rock noventista e rock alternativo nacional, que é cada vez mais mostrada ao público em eventos e lançamentos. O mais recente é o EP “Big Ego, No Self Esteem”, que conta com 3 faixas autorais “Blood Of My Blood”, “April 9th” e “Big Old Glasses”. 

Desenho de uma pessoa de cabelo chanel refletida no espelho do banheiro.

Capa do EP "Big Ego, No Self Esteem". Foto: Reprodução.

Para falar sobre isso e muito mais, convidamos os integrantes do Jonabug para um bate papo. 

De onde veio a ideia de formar essa banda?

Marilia: 

A banda começou em 2021, ela tinha outro nome, se chamava Yellow Guava. Ela começou comigo e com o Dennis, a gente pensou em formar uma banda, testou e fez alguns ensaios com outro pessoal. Não rolou muito. Como ele já tem outra banda, eu falei para o Dennis chamar o Samuel e o Carlos pra ver se rolava. Aí rolou, e a gente começou a tocar, era outra proposta, um som bem mais pesado, um punkzinho… 

Dennis: 

Era mais distorcido… Começou assim a banda. Inicialmente era pra eu estar tocando guitarra, só que não achei muito legal a vibe da guita, aí falei “Pô, chamar o Carlin né, já destrói nas 6 cordas” e juntei o Samuel né, que é um excelente baterista. A banda é o que é hoje, essa junção de várias coisas diferentes. 

Marilia: 

Vocês já eram amigos antes de formar a banda né, acho que por isso que deu certo.

Carlos: 

Tem o lance de que quando a banda começou não tinha teclado né, e eu acabava fazendo muita função de guitarra junto com Marília. Nos primeiros ensaios acho que ela nem tocava guitarra assim, a gente adicionou e com as coisas novas foi surgindo o teclado. Aí hoje a formação tá nisso, eu fico entre guitarra e teclado, Dennis no baixo e Samuel na bateria.

A banda Jonabug está cercada por amplificadores e do lado direito tem uma parede grafitada.

Jonabug ao vivo no Beco da Resistência. Foto: Acervo da banda.

Vocês podem me falar um pouquinho também sobre o que que cês puxaram de referência, né?

Marilia: 

As referências eh a gente escuta de tudo um pouco como por exemplo o Carlos ele escuta muita coisa diferente do que eu escuto e do que o Samuel escuta e acho que a gente acaba juntando tudo isso em um só. Temos muita referência muito grunge anos noventa e também a gente está tentando puxar um pouquinho pro shoegaze mas não tanto! É um elemento que a gente tenta colocar nas nossas músicas. Eu acho legal que cada um, cada instrumento tem uma referência diferente, então pro teclado o Carlos tem uma certa referência que eu não tenho e aí acaba surgindo uma coisa nova, tanto Samuel quanto o Denis também. Mas no geral é o rock alternativo assim mesmo, esse indie meio bedroom pop. De banda eu gosto, eu sempre vou falar, gosto muito de julie, também gosto de Pixies, Sonic Youth, Destroy Boys… 

Carlos: 

Ah, então, como a Marilia falou, eu acabo puxando muito para um outro lado que sai um pouquinho assim do indie, né? Não no que eu não ouço, mas é que eu não aplico tanto. Eu gosto muito, como tecladista assim, eu gosto muito do som do Deep Purple. Gosto muito desse lado assim que usa bastante o órgão, e coisas do tipo. mas também ouço bastante indie. Então na hora de criar eu não penso muito né, na hora só vem as referências do que costumo tocar e vão saindo as ideias. 

Samuel: 

A Marília comentou de Julie, Destroy Boys e Pixies, eu gosto bastante também. Eu curto bastante rock alternativo então tem umas bandas assim que eu acabo mandando até um som pra eles às vezes. Tipo assim, não é bem o que a gente toca, mas eu costumo tirar bastante referência de bateria. Eu gosto de música aleatória na real, tipo às vezes eu acho uma música legal de alguma banda alternativa e eu vou deixar no aleatório e acaba eu acabo descobrindo bastante banda assim que seja aquela banda de uma música só, mas que eu consigo tirar bastante para produzir alguma coisa. 

Marília, da banda Jonabug, cantando no microfone
Dennis, da banda Jonabug, tocando baixo

Fotos: Acervo da banda.

Banda Jonabug em pé contra uma parede com plantas trepadeiras.

Integrantes do Jonabug posando para foto. Foto: Acervo da banda.

Esse primeiro EP foi produzido quando? Como foi esse processo?

Marilia: 

A gente gravou esse ano mesmo, em maio. Pegamos um final de semana, foi lá pro estúdio e ficamos gravando num sábado e domingo. Foi uma experiência. Da minha parte eu gostei que esse tipo de experiência ele aproxima muito mais a banda, então eu acho que a gente pôde se aproximar ainda mais, principalmente pra próxima, para trabalhos futuros e também eu pelo menos da minha parte deu uma amadurecida em como me portar, em como trabalhar ali em conjunto. Eu gostei bastante, foi uma experiência bem diferente, pra mim foi a primeira vez. Os meninos eles já tem outro álbum gravado, mas pra mim eu gostei muito porque foi a minha primeira experiência e foi ótima. Ainda mais por ter passado dois dias lá e ver a música que você criou gravando no teu celular sendo ali gravada tintim por tintim… É muito louco, sério. É muito da hora é muito legal que eu consigo ver o que cada um de fato está fazendo, tipo, às vezes a gente está tocando junto e eu não percebo muito o que que o Samuel está fazendo, o que que o Carlos está fazendo, o que que o Denis está fazendo e pelo menos ali dá pra pra eu ver tipo o que que eles estão se expressando ali, sabe?

Dennis: 

A gente nunca gravou nada assim, né? Com a Jona e você passar a música num ensaio é uma coisa, mas você escutar ela gravada é outra coisa. você vê esse processo, cada instrumento, como que ele funciona. Pra mim isso é algo que desperta um sentimento muito forte, que eu gosto muito de tocar assim, cara. Então, ver as músicas prontas, foi algo muito bom.

Carlos: 

A parte que eu mais gosto de gravação de estúdio, eu acho que é aquela parte meio que de oficina assim que você pega, né? Tem a música, ela tem uma base assim, pronto, ela tem toda a estrutura dela, mas é quando a gente consegue entrar na parte de experimentação, eu acho que é a parte mais legal pra mim é quando a gente começa a experimentar timbres de guitarra ou linhas vocais que podem dobrar e e pensa prum outro lado que a música pode ir, timbre de teclado, bateria e é muito legal você porque você está dando forma e depois depois desse passo a música já tá pronta. É o jeito. tipo assim, é a versão definitiva dela, ou é pelo menos por enquanto. Mas isso aí é muito legal você ver ganhando forma mais completa e mais complexa possível, né? Porque quando a gente tá gravando ensaio, com o celular ou tocando em show a gente não consegue dimensionar tudo que a gente quer num som. Então, essa parte do estúdio pra mim é a parte mais legal de longe assim, a melhor parte é de criação e procurar timbres.

Samuel: 

Cara, pra mim a parte do processo de criação que eu acho mais bacana assim é é quando você senta pra gravar e você percebe que coisas que cê faz na bateria, da primeira gravação que eu tive e essa reforçou um pouco, é que às vezes você senta e percebe que coisas que você toca normalmente que você faz em um ao vivo não cabem  numa gravação. O processo de gravação cada um tem muito mais liberdade que no ao vivo, às vezes a pessoa grava mais uma vez e às vezes se você preenche demais alguma coisa e acaba sobrepondo a outro instrumento.

Então é é bom você perceber essas coisas no processo de gravação, é bem mais fácil porque você ouve tudo como todo mundo disse e aí você você começa a ver as músicas de outra forma porque às vezes fazia o básico bem feito é melhor do que você ficar tentando colocar muita coisa, atropelando o uso dos instrumentos. Sim, é aquele lance que você fala, né? Que o silêncio também é música, assim, é importante ter momentos de baixa frequência um pouco menos de barulho, em momentos que cresce assim. Essa é a que faz a diferença na música. 

E quais foram os pontos negativos dessa gravação?

Carlos: 

Eu acho que o ponto negativo foi em relação ao tempo. Dessa minha última experiência que tive com o estúdio né? Que eu tinha uma com a Cosmotel [outra banda de carlos] a gente gravou lá também foi no mesmo estúdio, só que foi um um disco, então foi muito mais cansativo e teve muito mais problemas. E aí com a Jonabug cara eu acho que o maior problema foi o tempo que foi um final de semana só. Então a gente é tudo muito corrido assim. Você não tem muito tempo pra testar. Testou uma, duas, não foi? Faz do jeito que você se garante e vai, assim, né? Então, acho que pra mim o ponto negativo foi isso, assim, a gente não tem muito esse tempo de laboratório de banda. Ainda assim foi legal, mas pô, pra mim a gente ficava uma semana gravando três músicas, sabe.

Conta pra a gente um pouco mais sobre essas 3 músicas que estão no EP “Big Ego, No Self Esteem de vocês.

Marilia: 

Eu já tinha feito, na verdade eu não só componho. Tipo vou compondo ali na hora, eu escrevo textos e tudo mais, tipo poesias. E aí depois eu vou juntando quando eu já tenho a melodia. Então todas as letras desse EP foram retiradas de textos que eu já tinha feito. Blood Of My Blood é uma experiência pessoal minha, falar sobre a figura paterna e tudo mais… Eu tinha feito um poema sobre isso e aí eu só vou tirando assim, colocando algumas frases que combinam e tudo mais. Também dá a mesma coisa. Big Old Glasses também, todas as letras ali saíram de textos que eu já tinha feito antes, tipo eu fiz no ano passado e transformei ela em música esse ano e eu acho que é isso ela vai se tomando forma. 

Texto original escrito em um pequeno caderno da música "Blood of My Blood" presente no EP "Big Ego, No Self Esteem"

Texto original de "Blood of My Blood". Foto: Acervo da banda.

Texto original escrito em um pequeno caderno da música "Big Old Glasses" presente no EP "Big Ego, No Self Esteem"
Texto original escrito em um pequeno caderno da música "Big Old Glasses" presente no EP "Big Ego, No Self Esteem"

Da esquerda para a direita: Texto de "Big Old Glasses". Foto: Acervo da banda.

E como está o cronograma da Jonabug?

Dennis: 

Bom, pra cronograma de gravação essas coisas, a Marília estava conversando com o cara que gravou nosso EP, né? Que ele tinha lançado uma promoção pra gente conseguir fazer um single. Aí a gente estava com esses planejamentos, acho que deve estar tudo certo né? Tudo programado.

Marilia: 

Sim. Já está tudo certo. Então só precisamos escolher a música, né? E acho que vai ser bem difícil escolher. A gente pretende começar a gravar, mas pro final do ano, pra deixar o EP dar uma abaixada assim mesmo. Sim. E lançar, sei lá, em janeiro. Eu queria muito lançar mais músicas. Tipo tipo um EP com cinco ou seis músicas mas né? Mas dinheiro está em falta.

Banda Jonabug tocando em um ambiente escuro. Mesma foto do banner.

Jonabug em apresentação. Foto: Acervo da banda.

Por que as letras são em inglês? 

Marilia: 

Ai meu Deus… Eu estudo inglês desde os doze, então hoje eu estou familiarizada. Eu penso em inglês quando eu falo sozinha mas os meus textos eles são todos em português, então eu consigo por pra fora tudo que eu sinto em português, mas pra me expressar melhor em inglês eu acho mais fácil porque pra mim o português ele é uma língua muito expressiva. Tudo que eu falo em português parece que tem um peso maior do que tem em inglês. Então eu meio que escrevo em inglês pra ah não sei como descrever isso. 

Não sei… Em português parece que tem um peso muito maior, parece que eu estou sentindo uma dor muito maior do que eu realmente estou sentindo. As palavras têm mais peso, né? Então quando eu canto em inglês eu sinto um peso menor e eu sinto que também eu tenho mais facilidade. Talvez seja porque eu estou escrevendo inglês há um tempo. Mas compor em português é algo bem difícil. Eu já tentei fazer em português e não gostei muito. 

Vocês se consideram uma banda de rock triste? 

Marilia: 

Ah! Sim cara! Principalmente as próximas músicas! É que eu acho que esse EP foi bem mais alegre! Não, mas assim, eu falo de vibe assim, eu acho que tem coisa mais triste ainda por vir. Mas não conto, né? É. Então sim, cara.

Qual o bar favorito de vocês em Marília?

A banda inteira, com entusiasmo respondeu que era o Xeque-Mate.

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