Entrevista Exclusiva

Entrevista Exclusiva com Eliot Mo

Por Dentro do Maior Lançamento de Froideville

10 de fevereiro de 2024

As redes sociais abriram a possibilidade de conversarmos com pessoas de todos os lugares do mundo. E pode parecer um exagero aos olhos de alguns, mas existem assuntos que podem ser considerados universais em sua forma mais bruta. A música, por exemplo, apesar de suas diversas faces e expressões, é universal.

Nos primeiros dias de dezembro de 2023, um perfil me foi recomendado pelo Instagram. Tinha apenas 230 seguidores e seis publicações. Ao explorar essa breve conta, via-se alguns teasers de um álbum que seria lançado agora, em janeiro de 2024. Os teasers eram compostos por dois reels com algumas faixas do lado A e B. A produção era caseira, com vídeos de carros praticando acrobacias ao som de uma psicodelia sintetizada por algum desconhecido de algum lugar do mundo.

Uma mistura de um som mais Groove com tons da psicodelia setentista se encontra no meio de sintetizadores e vocais destoantes. Essa produção mais intimista traz aquele ar caseiro para os fones de ouvido ao mesmo tempo que levanta uma pergunta: quem é a pessoa por trás desse perfil? Ou melhor ainda, quem é a nossa matéria de hoje?

Quem é Eliot

Estamos falando de Eliot Mo, vulgo Monachon. Com 29 anos, ele reside na pequena vila suíça de Froideville, cujo nome se traduz literalmente para "cidade fria". A localidade tem só 2 mil habitantes. Ou seja: menos que alguns condomínios de São Paulo, tais quais o Copan.

Froideville está localizada próxima à Lausanne, uma cidade de porte médio às margens do Lago Geneva. Segundo ele, Froideville é um lugar onde nada acontece. Muitos de seus amigos vivem na cidade vizinha, onde rola uma pequena cena alternativa. Lá existem alguns lugares para se apresentar, entre os quais bunkers desativados, porões e até o campinho dos fundos de uma escola.

Seu trabalho começou muito tempo atrás, bem antes da covid-19, por volta de 2016. Ele e alguns amigos gravaram demos que futuramente iriam entrar neste novo álbum. Além disso, em 2017, Monachon fez três shows em Lausanne. Um deles foi no aniversário da mãe de um de seus amigos, numa época em que era muito difícil para o grupo se organizar como banda. Então, cada um seguiu seu caminho.

Avançando o Disco

Por volta de 2022, Eliot decidiu que queria gravar seu primeiro álbum, utilizando todas as habilidades de produção que acumulou ao longo dos anos. Seu objetivo era realizar o lançamento mais "limpo" possível, demonstrando suas habilidades e conhecimentos adquiridos. Apesar de ter ficado preso na mixagem, isso não o deteve de correr atrás de uma gravadora. Após alguns meses sem resposta, ele decidiu seguir completamente independente e juntar dinheiro para que, algum dia, pudesse fazer o lançamento em vinil do seu primeiro álbum, “La Morosophie”.

Todas as faixas foram criadas por Eliot e passaram por um rearranjo com uma banda. No entanto, em termos de composição, ele sempre trabalhou sozinho.

Eliot demonstra grande carinho por poder criar e compor em sua solidão, tendo tempo para desenvolver sua música em sua própria velocidade. Também abraça a liberdade para experimentar diversas coisas durante a produção. Segundo ele, a criatividade vem como um estalo na cabeça. 

Ao ser questionado sobre como é produzir sozinho, Eliot diz que se uma melodia surge na minha cabeça, ele canta.

Normalmente é apenas uma linha de baixo ou um riff, e se eu deixar fluir pode transformar-se em uma melodia completa para uma faixa

Na maioria das vezes quando eu digo para mim: ‘caramba, essa música pode ser legal’, eu bati no ditafone e esqueci 3/4 do que acabei de cantar.

Do Outro Lado Toca Inspiração

Eliot diz escutar Rock Psicodélico e Rock Progressivo desde os 14 anos. Sua mãe cantava em uma banda cover do Pink Floyd, o que lhe abriu portas. 

Eu nunca gostei de música mainstream, exceto bandas de rock dos anos 2000, quando eu era adolescente, como The Offspring, Sum 41, Green Day e assim... Então, eu desembarquei na terra sagrada do Led Zeppelin, The Doors e todas aquelas bandas clássicas de rock”

Foi nessa busca que descobriu outras bandas, como 13th Floor Elevators e Blue Cheer.

Desde então me aprofundei muito nesse estilo. Mas sim, Psicodélico, Progressivo, Jazz-Rock, Krautrock é o que eu mais gosto .

Acho que [meu gosto] não aparece muito no meu álbum porque ele é uma mistura de faixas diferentes que fiz ao longo de vários anos, com estilos e climas diferentes. Mas, para o próximo, eu realmente pretendo fazer um álbum ‘completamente temático.

Eu Escolhi a Vitrola

Na última década, tem havido uma ressurgência do disco de vinil. Os artistas e gravadoras voltaram seus olhares para o antigo formato, tornando contemporâneo um produto que parecia ter sido dado como morto.

Diante do domínio do streaming, a mídia física torna-se também um adereço da multiarte. Nela, os artistas podem expressar seu trabalho e reviver o sentimento adormecido do ritual auditivo. Isso se manifesta na concepção colaborativa de capas e encartes com outros artistas, na disponibilização de letras e, obviamente, na recordação material. 

Isso nos leva de volta a uma das grandes empreitadas de Eliot: lançar seu próprio vinil direto de casa, sem a ajuda de uma gravadora ou selo. Eliot diz ter descoberto no vinil um formato interessante por mesclar som às possibilidades de cor dos discos.

Capa do Primeiro Disco de Eliot Mo - (La Morosophie) Feita por @nicolas_degaudenzi

É um produto completo, que une arte visual e música. Pedi a Nicolas Degaudenzi @nicolas_degaudenzi para criar uma obra de arte para mim e ele fez um trabalho incrível

Do lado A ao Lado B

Após algumas conversas sobre serviço social e militar na Suíça, começamos a falar mais sobre o novo trabalho de Eliot. Ao ser questionado se poderia dar uma descrição faixa-a-faixa, ele responde que o Lado A está repleto de faixas psicodélicas e progressivas ao estilo clássico.

Acho que ‘Souplex’ e ‘Satané Hippy Joel’ são como músicas Pop-Rock dos anos 1960, com estruturas muito clássicas. ‘Mandros Agora’ é mais experimental e dissonante, com uma parte central muito distinta e inesperada. E ‘C'est Ça’ é como uma mistura das três faixas: uma estrutura clássica com uma parte bastante inesperada. Já o lado B tem mais sintetizadores e alguns toques de “jazzy-disco".

Segundo Eliot, “pelo menos as três primeiras faixas deste lado e ‘Pau-El Jam’ estão nesse clima. Para mim" no começo, Eliot planejava lançar um grande EP com as faixas do A-Side mais “Fin Heureuse”. Mas decidiu fazer o LP relançando duas faixas e acrescentando uma jam. 

No Fim do Disco

Durante a trajetória de um artista, ele se depara com um momento de conflito. É o tal do lançamento do disco, que junto a ele sempre surgem algumas complicações. Como produzir? Como lançar? Vai existir uma mídia física? E o principal: quem vai bancar essa brincadeira?

Não é fácil ser efetivamente “independente” hoje em dia. Em uma era onde muitos se assumem membros de uma comunidade alternativa, e dizem apoiar artistas, chega a ser irônico os comportamentos realizados por “benfeitores” da pequena indústria fonográfica independente. Seja no Brasil, seja no outro lado do mundo

Eliot conta que enviou cerca de 50 e-mails para várias gravadoras. Depois de dois meses e meio, tive apenas três respostas.

Eu meio que dei ‘rage quit" e disse ‘porra, não preciso deles

É uma pena, todas aquelas gravadoras que parecem tão legais e “benevolentes”, mas nem sequer te dão um ‘não’. Parece que eles não dão a mínima para você. A menos que você seja tocado pela graça deles e tirem tudo de você

La Morosophie

O trabalho de Eliot nos mostra uma nova perspectiva sobre produção musical independente, de modo que leva  “caseiro” no nome ao pé da letra. Com uma produção clean, “La Morosophie” é uma abordagem nostálgica do presente entre tantas superproduções (e suas tentativas).

 Honestamente, não tenho absolutamente nenhuma expectativa. Faço primeiro para mim e para compartilhar o que faço com meus amigos. Obviamente, eu ficaria muito feliz se isso se transformasse em algo que as pessoas quisessem compartilhar e falar

O disco não gira apenas nas vitrolas. Você também pode conferir ele nas plataformas de streaming, incorporado abaixo.

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