Entrevista Exclusiva
Banda Exclusive os Cabides fala sobre o lançamento de seu próximo álbum, "Coisas Estranhas".
30 de julho de 2023
Fundada em 2019, Exclusive os Cabides é uma banda de mutações. Além de mudanças de membro, a sonoridade do grupo sempre foi adepta da experimentação e da liberdade.
Hoje, a banda conta com os primos Antônio Ávila (vocalista, compositor e chocalhos) e João Ávila (guitarrista, compositor e vocalista), Duds (guitarrista solo), Ana Nasario (baterista) e Jean que alterna no baixo junto de Maitê.
A alguns meses de lançar seu segundo álbum "Coisas Estranhas" e no início de um importante financiamento coletivo, a banda topou conversar com o Desconhecido Juvenal sobre a sua história, os seus trabalhos anteriores e, claro, sobre o seu próximo lançamento, o álbum “Coisas Estranhas”.
Ao final da matéria, falamos porque você deveria apoiar o financiamento coletivo da banda.
Como a banda começou?
Começamos fazendo uma aula de música em conjunto, numa escola de música chamada Garagem 2020. O professor de bateria Márcio Bicaco instruiu eu, Kelmer, que tocava baixo, e Mafra, que tocava bateria, a sermos realmente uma banda. Daí, o Antônio entrou no meio, paramos de ir no Garagem e começamos a ensaiar na casa da minha avó e do Antônio. Conforme foi indo, se transformou em um home studio chamado "Casa do Espanto". O tempo foi passando, a banda passou por várias mutações até estar como está agora.
E como vocês se conheceram?
Eu e Antônio nos conhecemos desde bebê. O Duds, nós almoçavamos na casa dele.
[Neste momento, Duds, que não estava presente na entrevista, chegou em um momento oportuno. Após se desculpar pela demora, prosseguiu:]
No começo da banda, eu era mais um amigo da banda do que membro. O primeiro show do Exclusive os Cabides fui eu que arrumei. Falei com o Marco, do Balaio de Gato, "Marco, temos que fazer um show e o Exclusive os Cabides tem que abrir". A Vitória fez o corre também. O Marco estava meio hesitante, "ah, mas não sei o que", só que eu insisti, disse que era bom e que valeria a pena. Então eu tava meio que assim com a banda. O Antônio e o João basicamente almoçavam todo dia na minha casa, porque estudavam no Centro. Comecei a virar amigos deles mais e mais, e aí a gente ficava tocando e as coisas foram se desenrolando muito naturalmente. Quando vi, já estava ajudando eles a compor e querendo tocar com eles porque era muito divertido. Então foi meio que assim, um encontro. Encontros e almoços.
[Duds observa que, mesmo quando não produtora, Vitória ajudou em tudo que pôde, desconsiderando assim a pausa assumida por ela]
Como foi que a Vitória entrou?
Eu conheci eles numa situação bem engraçada, porque eu era produtora de uma outra banda, a La Leuca e estava precisando de patrocínio para uma turnê. Então vi a marca deles, a Wordly, e o engraçado é que, como eu vim de Minas, eu achei que essa fosse uma marca super grande de Floripa, porque eu não conhecia muitas coisas. Então enviei um email pra eles com um slide todo preparadinho pedindo patrocínio e eles nos ajudaram com camisetas para vender. Só que a partir disso, começamos a nos conhecer e viramos todos amigos. Aliás, a La Leuca foi uma grande influência para o João começar a colocar pra fora o que ele queria como músico. Os primeiros shows fomos desenrolando. O primeiro show dele, na verdade foi solo, no Garagem Bar, onde o Mafra ajudou, um rolê mais de skate. Os shows em grupo fomos desenrolando depois. Inclusive, eu cantei nos dois primeiros shows em grupo, fiz o back vocal. Mas aí, começamos a ter essa relação mais como produtora e banda. Tivemos uma pausa, pandemia e várias coisas, na qual acabei não ajudando na banda. Mas agora estou de volta e estamos aí.
Então vocês já tinham composições anteriores que foram se modificando num processo coletivo?
Quando eu cheguei na banda, ela já tinha um formato muito fechado. Tinha muito a cara do Antônio e do João. E agora ver como estamos melhorando nossa dinâmica de grupo....
Basicamente, antes do Duds entrar, eu, João e Kevin já havíamos lançado um EP. Kevin nos chamou para ir na casa dele para nos ensinar a como gravar música pelo Garage Band. Nisso, eu gravei as minhas, o João as dele e o Kevin também. Ficamos lá curtindo a noite e fazendo letras malucas, o João fez um desenho e escreveu "Para endoidar o cabeção", um álbum muito sem compromisso. E nessa época, a banda não estava consolidada, não tinha essa imagem de banda, mas o colocamos no Spotify. Depois, começamos a fazer shows onde cantávamos muitas músicas que estão no álbum "Roubaram Tudo" antes de lançá-lo. Então quando o Duds entrou, as músicas já estavam ali. Claro que ele colocou do seu jeito a participação dele no álbum, mas o que eu acho massa é que nesse próximo álbum veremos realmente a diferença entre um trabalho menor e despretensioso e um trabalho maior em conjunto.
Sim. Agora como nossa dinâmica de grupo está muito melhor, também está muito mais fácil trabalhar as ideias em conjunto. A nossa sincronia aumentou e naturalmente as nossas ideias musicais convergem mais. Sei o que todos irão fazer, então sei quais cores posso usar para montar as minhas imagens sonoras.
Foto dos integrantes da banda. Foto: João Pilati
Para Endoidar o Cabeção (2019)
Capa do EP "Para Endoidar o Cabeção (2019). Foto: Reprodução
Esse álbum é primeiras composições. Muito DIY pelo próprio contexto de produção, gravação lo-fi, na qual exploram muitos elementos de noise e dissonância, lembrando bastante Velvet Underground. Essas sonoridades e referências continuarão no novo álbum ou vocês pensam em explorar outras ideias sonoras?
O novo álbum vai ser algo mais "clean". Mas querendo ou não, isso do Velvet e do Lou Reed é algo que sempre fica de fundo, porque escutamos muito eles durante nossa vida. Então a referência estará lá, mas de uma outra forma. Pelo menos eu pretendo que seja bem mais organizado.
Sim. Tanto é que já dá para ver uma diferença entre "Para Endoidar o Cabeção" e "Roubaram Tudo", esse segundo já foi feito em estúdio. Inclusive, o "Coisas Estranhas" vamos gravar nesse mesmo estúdio, o Ouié, do Paulo. Além disso, os anteriores foram gravados todos ao vivo, mas para este próximo pensamos em uma dinâmica de gravação diferente.
Acho que enquanto tava todo mundo descobrindo o que o Exclusive os Cabides era, é normal que se experimente um monte. Então até o próprio processo de gravação é meio caótico, pois você está fazendo várias coisas esperando que uma dê certo. Então vamos fazer uma receita pela primeira vez, juntar os ingredientes. Agora que sabemos, mais ou menos, artisticamente o que queremos entregar, acho que seremos mais precisos. Chegaremos no estúdio com uma ideia do que queremos expressar artisticamente. Será mais focado, não sério, mas mais limpo, tentando cortar as bobagens e deixar somente o que importa. Eu espero "hits rock".
O que você caracteriza como "o que importa"?
O que importa é a sonzeira. As pessoas escutarem nosso som e falarem "caralho esse som é muito foda". É isso o que importa.
E meio que o que importa na gravação são coisas essenciais que eu não consigo explicar agora porque não tá na minha frente. Mas, por exemplo, quando você tá fazendo a mix junto com o cara e você começa a ver elementos, que depois de uma semana ali trabalhando, começam a não fazer mais sentido. Então é meio que fazer as coisas com mais tempo para pensar mais nos pequenos detalhes.
Uma coisa que faremos com ele é que, antes de gravarmos, prepararemos demos em casa. Experimentar primeiro em casa, vê como fica, até para termos uma ideia prévia do que queremos quando chegarmos no estúdio e não ficarmos viajando demais ou perdendo tempo. Mesmo porque teremos duas pessoas trabalhando conosco, o Paulo, do estúdio, e estamos vendo de trazer o Benke, do Boogarins.
Frente a isso tudo que me disseram, vocês tem alguma pretensão com esse álbum? Algo como, "Isso é o que somos"?
Na minha opinião, é difícil dizer que a pessoa sabe algo sobre si mesma sem saber, porque tudo muda. Eu acho que esse álbum quer dizer diferente, que nem todos os outros, só que de uma forma mais legal e com mais tempo para fazer.
Roubaram Tudo (2020)
Capa do álbum "Roubaram Tudo" (2020). Foto: Reprodução
Esse álbum fala muito sobre "alguéns", seja um animal, uma pessoa, enfim, sobre nenhuma seres. Agora, nas músicas que tivemos acesso do álbum novo, fala-se muito sobre coisas, não à toa chama-se "Coisas Estranhas". Porque essa mudança na temática? Porque pararam de falar de "alguéns" e começaram a falar de coisas?
Em questão de coisas, as coisas sempre estão nas nossas conversas. Falamos muito mais de coisas do que de pessoas, por exemplo, "essa coisa aconteceu comigo", não é uma coisa mas é um acontecimento. "Coisas Estranhas" engloba esse universo de coisas que sempre nos foram estranhas, como uma lanchonete, o gato preto e a Lucy ter medo de dormir sozinha, entende?"Coisas Estranhas" é a tentativa de englobar esses objetos materiais engraçados- os quais me divirto pondo-os nas letras- e acontecimentos estranhos em um único universo.
Tem o lance de que algumas músicas que estarão nesse álbum já existiam. Lagartixa Tropical, eu tava vendo agora, a gravação em estúdio é de janeiro de 2021, mas mesmo assim ela já existia muito antes. "Coisas Estranhas" é uma música super antiga, era a intro da nossa marca, a Wordly. Fizemos o álbum "Roubaram Tudo" juntando músicas que combinavam entre si, por exemplo, o tema "animais". E além disso, a ideia no início era ser um álbum de amor, "Com amor, Exclusive os Cabides". Acabou dando essa filtrada justamente por aquilo que é a graça de se fazer um álbum, que é você juntar suas músicas de forma que elas conversem entre si.
Sim. No "Roubaram tudo" juntamos as músicas que estavam mais maduras, porque como era dia de show, gravado ao vivo, não queríamos fazer cagada.
E isso é meio que um termômetro para as nossas gravações. Porque testamos várias maneiras de tocar uma mesma música, e o que não funciona ao vivo descartamos. Pode ser meio limitante pautar a gravação no que é executável ou não ao vivo, mas acho que no nosso caso, isso é uma grande vantagem, pois já vamos reduzindo as coisas e vendo o que funciona. As músicas que mais dão certo, pensamos, "essas músicas estão prontas para gravar".
Neste momento da entrevista, abordamos o álbum novo, que atualmente se encontra em fase de financiamento coletivo para sua realização e lançamento plenos. Abaixo, a banda vai comentar as faixas às quais o Desconhecido Juvenal teve acesso. Mas antes...
Por que esse nome? Por que vocês decidiram usar o nome da música no álbum?
Tem muito do lance que eu falei de criar um universo para englobar coisas estranhas, porque a temática das músicas que estarão nesse álbum vai ser estranha ou minimamente estranha. Então ficou um bom nome para uniformizar músicas em um lugar só. Criar um conceito em volta delas a partir de uma música. Gostamos também de fantasias, folclore e o nome veio a calhar, ficou divertido, o pessoal gostou e ficou assim,
Descrita como "A grande sorte" do grupo, os integrantes comentam um pouco sobre a história da canção e as consequências de sua respectiva viralização a seguir:
Como falei antes, gravamos ela no início de 2021, no estúdio do nosso amigo Paulo, porque ele tinha comprado um microfone e queria testá-lo. Naquela coisa de pandemia, marcamos um dia específico em que todos tivessem passado seu período de isolamento, para ir na casa dele. Então fomos eu e o João lá, o Paulo disse "canta uma música aí". Tocamos três músicas, e uma delas foi "Lagartixa Tropical". Aí um dia, meio entediado em casa, eu peguei essa música e juntei com um vídeo pré pandêmico da gente indo comprar cerveja, como forma de revisitar memórias. Acabou rendendo um bom vídeo, mantive ele no YouTube e falei, "vou botar ele no TikTok já que estou experimentando a plataforma mesmo", e quando eu acordei, já tinha viralizado, tinha um monte de gente usando. Aí eu falei com o pessoal da banda sobre ter viralizado, discutimos sobre postar ou não, daí eu fiz um vídeo falando "se o álbum Roubaram Tudo chegar a 100 mil plays lançamos", a comunidade se envolveu com a gente, deu muito play e nos cobraram a postagem, postamos e daí virou o que virou. Mas a versão que queremos por em "Coisas Estranhas" é outra, uma regravada com a banda, com uma aumentada no instrumental. Mas acho bem legal ter viralizado.
Print do clipe em animação feito por Gabriel Felds (@paintmediocre). Foto: Reprodução
[João complementa dizendo que a primeira versão oficial de "Lagartixa Tropical" é um trap com autotune]
Vitória continua:
"Essa questão de ter viralizado é interessante, mas temos que pensar em formas de como isso pode nos ajudar, porque já têm merchs sendo feitos, e tem muita gente que não sabe que é da Exclusive os Cabides, acham que é são zoeiras e covers da internet. Então estamos pensando em como vincular isso à banda".
[Antônio finaliza comentando que, quando estavam juntando as músicas que iriam compor "Coisas Estranhas", foi pontuada a importância de ter "Lagartixa Tropical" em uma outra versão para dar uma alavancada no álbum e como uma forma de convite ao ouvinte conhecer nossas outras músicas legais]
E como vocês lidaram com essa viralização?
Se por um lado é legal, também nos colocou em contato com pessoas que não eram do nosso público. Porque antes, ele era muito fechado, tipo amigos nossos ou amigos de amigos, ou no máximo gente que a gente conhecia da cena de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Mas quando sai disso é complicado lidar com a internet, né? A loucura, as pessoas falando o que acham, às vezes, de uma maneira bem deseducada.
[A banda termina, após comentarem que hoje sabem lidar melhor com essa pressão, por desabafar que estão um pouco cansados de tocar "Lagartixa Tropical". Apesar disso, gostam ainda de tocar a versão original, "como banda pequena temos que dar espaço a essas faixas. Jamais deixaremos de tocar uma música porque ela viralizou, isso não faz sentido" e ainda completam dizendo esse tipo de situação os movimenta a criar uma versão de banda que ninguém conheça ainda, o chamado "fator surpresa"]
Como foi escrever essa letra? Qual sua relação com essas coisas encontradas?
Escrevi essa música porque geralmente perco muito as minhas coisas em casa. E eu também sou uma pessoa ansiosa, então quando eu perco algo eu fico muito puto. E também tem relação sobre como não podemos controlar as coisas. Perdemos algo e não conseguimos mais achar, ficamos bravos, mas na minha cabeça, só nos resta reorganizar e ter imaginação o suficiente para me divertir.
A composição seria uma expressão uma imaginação?
A música tem relação com muitas coisas, sobre ansiedade, sobre perder coisas, mas também sou eu só me divertindo com palavras aleatoriamente. É mais isso, do que um significado super profundo.
[Antônio disse que a versão enviada ao Desconhecido (disponível aqui) é uma versão, na época, recém aprendida a ser tocada e que contava com Kelmer no baixo. Assim, a composição sofreu várias alterações de tempo e duração até o presente]
Tem muito de Talking Heads nessa música, né?
Totalmente! O Duds com aquela guitarra dele é muito Talking Heads. A levadinha dela também lembra uma música deles.
Uma das primeiras coisas que penso sobre coisas estranhas é Talking Heads. Aí eu quis fazer uma guitarra que fizesse as pessoas lembrarem de Talking Heads.
Essa música eu escrevi muito rápido. Escrevi essa música 2 minutos e ela não tem realmente uma inspiração específica. Só gostei dos acordes, quis criar uma história bonita em cima disso e ficou legal.
Essa música mandamos para o nosso amigo Paulo, do estúdio Ouié. Ele gostou muito dela e nos convidou para gravar. Gravamos uma versão com violão, e uma formação meio diferente: quem canta é o João, a Ana e o Duds e eu não canto, só fico no chocalho. Gravamos separado uma coisa da outra, tínhamos que ir em dias diferentes.
Na real, isso foi sem querer. Por exemplo, o João só foi lá pro lance da Lagartixa. Aí o Paulo tava querendo gravar. O começo da música era só voz e o violão e o João gravou sem metrônomo. Ela, no início é bem um "sobe-desce". Mas ela ficou tão legal que começamos a fazer coisas com ela. Kelmer tocou baixo, Antônio chocalho, João gravou duas vozes, Ana e eu gravamos uma voz, duas guitarras, tem o trompete do Paulo, tem órgão que a Bibiana, que é a companheira do Paulo, tocou. Então o que vejo nessa música, saindo como single, é algo bonito porque é como fosse a história da nossa grande amizade transformada em música. Tipo, muita gente pensou em como iríamos fazer, o Paulo não questionou nada na hora de gravar e consequentemente a música ficou linda.
A música ficou tão legal que surgiu uma oportunidade de gravar um clipe. Usaremos ele como lançamento de singles, espero que em alguns meses para alavancar o nosso financiamento coletivo. E no "Coisas Estranhas" outra versão diferente, uma versão nova que tocamos de outra maneira. Acho legal o fator surpresa nesse esquema, que inclusive, também vai acontecer com "Lagartixa Tropical".
O nome é em referência ao grupo "Sonho Estranho"?
Sim, faz. Fiz uma música em homenagem à Sonho Estranho. No finalzinho ela é meio The Strokes. Fiz por querer e mandei para o Duds que gosta muito de The Strokes. A história do primeiro verso "a placa de pare diz pra parar mas aí você não respeitou", é que eu tava em casa e um cara bateu com uma moto numa placa, e aí eu acordei e fiz essa música.
Foto de 2021 dos integrantes da banda Sonho Estranho, Eduardo Possa (Home), João Paulo Pretto e Antônio dos Anjos (Exclusive os Cabides), Carolina Werutsky (La Leuca) e os artistas solo Wagner Almeida e Vitória Saiago. Foto: Reprodução
E qual a ligação da banda Sonho Estranho com a Exclusive os Cabides?
[Chamada à palavra, Vitória começou a contar:] Começamos com essa ideia da banda na pandemia, porque ninguém tava se vendo, eu tinha até voltado para Minas. Tínhamos um grupo no zap chamado "Escola do Rock ", que era com uns amigos que queriam continuar fazendo um som à distância. Começamos a conversar sobre coisas da vida, pandemia, loucuragem, apocalipse. Começamos a falar dos nossos sonhos que estávamos tendo na pandemia e virou uma coisa orgânica, ninguém precisava perguntar se alguém teve. Só todo mundo tava tendo sonho estranho por causa da pandemia. Era meio uma vibe apocalíptica ou coisas grandiosas e esquisitas. No mesmo grupo, o Duds e o Wagner e geral começaram a mandar riffs de guitarra, coisas e letras, até que virou uma banda. Aí eu inscrevi para um edital para conseguirmos gravar a bateria à distância num estúdio. Conseguimos gravar e lançar um álbum à distância completamente só com áudios do whatsapp e algumas coisas gravadas em estúdio.
[Depois, começou a explicar a ligação dizendo que basicamente todos os membros da Exclusive os Cabides fazem ou fizeram parte ou do processo da Sonho Estranho]
Acho que a nossa banda, não de uma forma negativa, é sem compromisso, pois tem uma forma tão leve, que só estamos ali porque gostamos de fazer aquilo, né? Essa forma leve de levar é muito gostosa e precisa ter um projeto desse existindo
E tava todo mundo querendo tocar um shoegaze, botar muito efeito de voz. O Duds meio que já tinha feito umas guias, daí fomos passando os dias isolados, eu Duds e o João numa casa de praia aqui em Floripa. O Duds levou as guias prontas, João cantou. Mandamos pro estúdio, pros nossos amigos do selo Seloki. Colocamos a bateria e lançamos. Tem vozes do Wagner Almeida que ele mandou a distância, em casa, usando o celular dele. Foi algo bom, foi uma coisa para se distrair enquanto a Exclusive não tava andando, foi legal tirarmos um compromisso de fazer uma música que tivesse haver com o que apresentávamos. Podíamos experimentar total, "ah eu queria muito mais shoegaze, falar de coisas mais sérias, refletir mais sobre as coisas boas da vida e música", de forma que não tinha uma forma tão poética. Acho que foi algo muito bonito".
[Vitória relembra que essas letras ajudaram os membros do Sonho Estranho a ficarem bem da cabeça. Complementando, "foi algo em conjunto, as letras a maioria era do Duds e a forma que o Duds pensou para mim, foram algo que me ajudou muito a passar pelo período da pandemia"]
Em seguida, Duds explica as letras:
"Acho que isso não foi nem intencional. Revisitando todas essas músicas hoje em dia eu vejo que foi um momento de fragilidade. Dá para perceber nas músicas. Estávamos só tentando encontrar alguma coisa. Porque não víamos mais nossos amigos, todos estavam levando a sério o isolamento social, e eu vejo em mim muita fragilidade, em tentar encontrar algo. Por exemplo, eu estava todo capenga e a minha voz estava meio fraca. Procurando alguma diversão, algum sentido, alguma coisa bonita pra fazer"
Essa poesia vem da fragilidade?
Eu acho que meu processo é bem parecido com o do João. Eu só sinto algo e quero fazer algo. Tanto é que nenhuma dessas músicas foi escrita, elas só aconteceram.
Teve até um dia que o Duds mandou, "cara acabei de acordar com uma melodia na cabeça vou gravar". Aí escrevemos em cima.
Não exatamente da onde veio. Veio de dentro de nós, mas não sei de onde. Veio do contexto, do isolamento, todo mundo querendo fazer música, algo divertido, legal e bonito. Essa vontade de viver.
[Antônio conclui explicando que a relação da Exclusive com o Sonho Estranho são as pessoas e observa que estão voltando a ensaiar, mesmo ele tendo sido criado na pandemia, o objetivo deles é levar como uma banda]
Porque uma luminária de lava?
[Antes de responder à pergunta, Antônio aponta que a maioria das músicas são do João. Assim, chama-o à palavra]
É só uma história para eu me divertir. Porque é uma música e anti-amor, tipo a pessoa não quer quem quer ela. Eu queria fazer uma brincadeira com isso, porque geralmente músicas pop são de amor. E o anti-amor é justamente a pessoa dando um fora na outra, com vontade de ficar sozinho. É só uma expressão cômica e não amorosa.
[Duds explicita que "Luminária de Lava" dividiu opiniões entre os membros da banda, dizendo que rachou muito o bico à primeira ouvida e achou João um gênio do rock. Por outro lado, Antônio disse que quando a ouviu de forma inédita pensou "que música horrível. Você perdeu no non sense"]
Só gosto de me divertir com palavras. Nada muito profundo. Criar uma narrativa legal e visual das coisas. Querendo botar a pessoa em algum lugar para ela ver o que tô vendo. E "Luminária de Lava" é totalmente isso: descrição divertida de uma situação/local e cheiro.
Essa despretensão está presente em várias outras composições suas, não?
Sim. Mas algumas são meio sentimentais.
Para esta música em específico pedimos um bate bola rápido, devido ao tempo de entrevista que estava acabando.
Verão Brechó é uma música sobre temáticas que, às vezes, vêm à minha cabeça e eu quero escrever sobre elas, mas eu não consigo. Por exemplo, até hoje não consegui escrever uma música sobre festa junina. Verão e Brechó, no caso, era para fazer sobre roupas, mas também tem muito haver com troca de estação. Ali no final, "e o verão vêm chegando e as roupas vão mudando", a mudança das roupas junto das estações. Esse é o verso que eu acho mais massa
[Duds relembra João o porquê do brechó, contando da "situação". João reage, "sim é que houve uma situação que uma mulher mais velha deu em cima de mim no brechó. Foi um troço estranho"]
Antônio conclui o bate papo sobre as canções que estarão em "Coisas Estranhas", complementando que as demais músicas serão na mesma pegada descrita, e temas como animais e lugares-personagem continuarão presentes. Além disso sente:
"Vira de uma forma legal, as pessoas vão conseguir relacionar com o nosso primeiro álbum e vai enxergar maturidade sem perder as referências".
Como dito anteriormente, para a devida produção e lançamento de "Coisas Estranhas, a banda fez um financiamento coletivo (o qual, para mais informações, clique aqui). Mas antes, você deve estar se perguntando, "porque eu apoiaria esses caras?". Para responder esse tipo de dúvida a banda pontuou alguns motivos de...
PORQUE VOCÊ DEVE APOIAR O FINANCIAMENTO COLETIIVO DA EXCLUSIVE OS CABIDES ?
1. Gravar "Coisas Estranhas", no estúdio Ouié com o amigo Paulo, para retribuí-lo financeiramente pelo trabalho bom e coletivo de sempre. 1.1 Gravar mais um clipe com nossos amigos que fizeram o clipe da música "Rua da Lua Cheia" que está pra lançar 1.3 Remuneração justa com todos que botaram fé e sempre fizeram trabalhos com a gente com amor, inclusive nós, os membros da banda, que vemos a Exclusive como o objetivo de nossas vidas.
2. Romper o eixo SP - RJ. 2.1 Fazer o pacote completo que uma música exige de percurso para poder existir de uma forma justa e com qualidade . 2.1.1. Consequentemente, a cena de Florianópolis será alavancada com a visibilidade trazida pela Exclusive à região.
3. As músicas estão muito legais :) e você merece apreciá-las com boa qualidade. 3.1 E as recompensas são legais também.
Mais como esta:
Projeto solo fala sobre desencontros emocionais e marca início de nova fase do artista sul-mato-grossense.
Projeto tem integrantes espalhados pelo país e fala sobre despedidas tanto em níveis interpessoais como do mundo que conhecemos.
Banda apresenta EP inédito em São Paulo e escreve novo capítulo na história da já tradicional cena do litoral paulista.