Cobertura
Edu, baixista da Surto Coletivo, conta história da banda após show frenético.
2 de setembro de 2023
“Um pouco da nossa essência é querermos trazer rock n’ roll pra hoje em dia. Não reproduzir aquela coisa datada. Trazer algo novo”
Eduardo Pereira, baixista da Surto Coletivo. “O humor?”, perguntamos. “Exato!”, confirmou.
No palco, 4 homens com seus instrumentos. Bateria, baixo, guitarra e microfone. A formação clássica de uma banda de rock de garagem. O cigarro na mão dos músicos e no chão sob o público trazia um toque junkie a mais ao lugar e o silêncio com fundo de estática dava espaço a gritos avulsos. A galera estava animada pelo show prestes a começar.
A guitarra de timbre animado acompanhada por uma bateria compassada faziam todos dançarem à melhor surf music. Entretanto, o sorriso sutil no canto da boca não vinha só da felicidade de se estar curtindo um show: eram risadas genuínas. Surto Coletivo trazia uma poderosa combinação de rock e humor- prato apetitoso para mentes jovens e, provavelmente, chapadas.
A possibilidade de Roberto Carlos poder ser jogador, cantor e até mesmo um cavalo é curiosa. Uma música que se desfaz enquanto toca é alucinante. Vitamina C que vira D logo ao final da música questiona a realidade das coisas. Esses e outros non-sense declamados por Mathias Galvão, vocalista da banda. E o público delirava e se divertia.
Foto: @_.ilegas
O vocal era sujo e falava absurdos; cenas de uma vida errada, mas que vivemos. As linhas de baixo eram penetrantes e te permitiam não se perder na prosódia delirante e bêbada. O clima esquentava e as camisetas começavam a serem tiradas. O isolamento acústico e a proximidade dos corpos lembravam o pequeno quarto no qual a banda começou.
Em 2020, conta Eduardo, tocavam no apartamento do vocalista. “Estávamos descontentes com a vida. Surgiu a ideia de banda (...) o que tínhamos a perder?”. Mathias estava parado a tanto tempo quanto o batera João. Edu nem baixo sequer sabia tocar e quando começou, tocava tenebrosamente mau. O vocalista era guitarrista também, mas desejava somente cantar. Era uma ideia de louco. Daí, talvez venha o surrealismo da banda; ela já nasceu de uma ideia impossível. Não possuíam estúdio para tocar. Era pandemia, tudo estava fechado. Tinham apenas um ao outro e um quarto suado.
Foto: Reprodução
As camadas sonoras densas e distorcidas tinham, por vezes, pequenos planos retilíneos mas nada uniformes. Neles, a guitarra deitava. Não solava, mas podia ser ouvida com clareza. Tinha mais espaço. Nessa viagem, Giovani curvava o tronco e movimentava as pernas feito um rockstar. Era a ponte necessária para a música passar de um movimento para o outro.
Giovani foi o último membro a entrar na banda. Após ver um stories de João, seu amigo, interessou-se pelo som de baixíssima qualidade da banda e foi assistir a um ensaio. “Viu a gente tocando porcamente, mas abraçou a ideia”. Surto Coletivo acabara de conseguir a guitarra que faltava. Além disso, o cara manjava de teoria musical e de produção musical.
Pouco tempo depois, os estúdios da Teodoro voltaram a abrir. O recém-formado quarteto podia assim, “Sentir o som. Desenvolver mais as paradas”. Mas foi num quarto- sempre começa em um quarto- no sítio de Giovani que algo de fato aconteceu. “No final de 2020 fomos pro sítio do guitarrista, o Giovani. Levamos os instrumentos, usamos colchões pra isolar acusticamente um quarto lá. Gravamos nosso primeiro EP, ‘Curto Soletivo’”. Completa, ainda, que queriam gravar 10 músicas, porém acabaram por gravar apenas 4- muitas delas tocadas naquela noite.
Hoje, a banda tenta conciliar trabalho, shows e a produção de seu primeiro álbum. Entretanto, a presença de palco de Mathias, a bateria de João que perfura coração, a guitarra dançante de Giovani e o baixo silly mas com seriedade de Edu, tornam visível o que realmente importa. “Queremos fazer os dois, só que o foda é que todo mundo trabalha. Então estamos tentando levar as coisas em paralelo. Queremos terminar o álbum até o final do ano. Essa é a nossa meta. Mas nossa brisa é tocar”, finaliza Edu.
Fotos: @_.ilegas
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