
Coluna Fractal
O pagode underground de Nabru
1 de maio de 2023
Bem-vindas, bem-vindes e bem-vindos à mais nova área do jornal Desconhecido Juvenal: a Coluna Fractal. Nela, apresentaremos assuntos que não são tão explorados aqui no jornal, desde pessoas que cantam e bandas até lugares como centros culturais, casas de shows, entre outros.
Atualmente, Aelin e Clari fazem a curadoria desta coluna. Só um adendo: estamos tentando expandir nossos horizontes e furar nossa bolha, o que significa que podemos cometer algum equívoco (como usar um termo errado). Portanto, se houver algum erro em qualquer uma dessas matérias – e provavelmente terá – por favor, nos avise. Ah, e esta seção vai funcionar de uma maneira mais experimental. Então, pode ser desde uma tradicional cobertura e entrevista até umas coisas mais diferenciadas que queremos trazer.
E para inaugurar, com vocês, Nabru.

Nabru é uma cantora do que ela define como pagode underground, lo-fi de favela, vinda de Belo Horizonte para conquistar a cena de São Paulo. Além do seu trampo com música independente, ela também ajuda outros artistas na mesma situação a profissionalizar seu corre com a Consultoria “Faça você mesmo!”. Ela ensina desde o que é um Press Kit, como montá-lo e como enviar para as mídias até como planejar e organizar seu lançamento.
O show onde a encontramos, que ocorreu no dia 15 de março no Tendal da Lapa (um oásis cultural escondido ao lado da estação), e começou com leves problemas de áudio. Depois de três tentativas e muitas alterações na mesa de som, a música começou.



O som chiado combinava com a vibe gostosa do trem passando ao fundo de tempos em tempos. A fumaça cheirava a tutti frutti. Uma mãe segurando a mão de uma criança saindo da escola é chamada pela melodia a entrar e curtir boa parte do show. A música que Nabru traz é gostosa, azul. De olhos fechados, brilha como glitter prateado e traz a sensação de ondas fantasmas pelo corpo depois de um longo dia de praia.
O ambiente é extremamente intimista. Dava pra ver que Nabru estava cercada de pessoas queridas. Elas, inclusive, cantam junto enquanto balançam o corpo. Do palco, Nabru compartilha histórias, informa a autoria dos beats, conta curiosidades das músicas. E foi com essa energia que ela veio até nós depois do show para uma breve entrevista.
Nabru afirma que suas músicas “sempre são repletas de literatura” e está ansiosa para aprofundar isso. “É muito difícil pra música independente, mas há as conexões. É um corre por conta, e é por isso que eu não faço tantos shows quanto queria. Mas a minha opinião tá formada, sou comunista e seguirei sendo. E outra coisa, uma vez meu psiquiatra ouviu minha música e disse (…)”.

Há quanto tempo você tá na cena?
Desde 2017 – 2018.
Você começou em Belo Horizonte, não foi?
Sim, eu comecei lá. BH é o percursor da minha vida, de tudo o que eu amo, eu tenho uma relação muito forte com minha cidade. Eu me mudei pra São Paulo por causa do movimento estudantil, eu era diretora de uma organização de estudantes, acabou minha gestão e eu decidi que ia ficar. Mas sinto falta de BH todo o tempo.

E é muito diferente produzir música aqui e lá? Como tá sendo essa expansão pro eixo Rio-São Paulo?
Belo horizonte Tem uma cena de rap forte, era mais fácil fazer show, me movimentar, encontrar meus amigos. Mas em SP é mais fácil ter um estúdio profissional pra gravar, tem sua importância por ser a capital, o berço do hip hop nacional, mas BH tá conseguindo tomar um espaço importante na cena, produzindo muito do que as pessoas têm consumido musicalmente, não só no rap mas no funk também.
Como é conseguir um local pra tocar aqui em SP? A música independente tá sendo abraçada?
Eu ainda não tenho uma pessoa que venda meu show, então eu toco nos lugares que me procuram, conexões que eu já tenha. Tanto na Flamingo quanto na Laje me indicaram; na Flamingo uma vez por semana eles chamam um artista preto e eu fui nesse contexto, na Laje um amigo me recomendou. É muito difícil pra música independente, mas há as conexões. É um corre por conta, e é por isso que eu não faço tantos shows quanto queria.
Você acha que locais públicos, como é o caso do Tendal da Lapa, facilitam esse processo?
É tão difícil quanto tocar num lugar público. A burocracia pra tocar aqui foi violenta e isso deve ter eliminado algumas pessoas.

Agora falando um pouco sobre sua vida pessoal, eu sei que você entrou recentemente na USP-Letras. Você sente que os estudos impactam sua música?
A vida universitária ainda não impactou, comecei Letras agora. E quanto ao movimento estudantil, ele me sugou muito, e quando eu tava naquele período pós médio antes da faculdade eu me senti meio abandonada pelas pessoas que tavam comigo antes. Não sei se vou voltar, pelo menos não agora nesse primeiro ano, mesmo ele tendo me construído muito como pessoa, me transformou em muitos sentidos e eu sou muito grata. Mas a minha opinião tá formada, sou comunista e seguirei sendo. E outra coisa, uma vez meu psiquiatra ouviu minha música e disse que curtiu as aliterações que eu tinha feito. Eu nem sabia o que era isso. Se sem saber eu já fiz essas coisas fodas com a língua portuguesa estudando letras eu vou ficar ainda mais foda. Minhas músicas sempre são repletas de literatura, estou ansiosa para aprofundar nisso.
Como você faz sua luta hoje?
Assim, eu faço parte de um movimento organizado, nunca pedi pra sair, mas ultimamente eu falo com as pessoas pela minha música. Dola de 5, por exemplo, tem uma citação inteira de Lenin. Então eu fico tranquila, não faz tanta falta eu não estar tão atuante.
O que te incentiva a criar e a distribuir sua arte?
Um dia eu escrevi uma poesia muito longa e senti que faltava algo. Um amigo sugeriu que faltava uma batida. Saímos do carnaval, fomos para um estúdio e gravamos minha primeira música, 4 escadas, que mudou minha vida. A música me encontrou. Mas eu já tinha uma conexão com música, literatura… sempre estiverem muito presentes em minha casa. Já cantei em coral, mas nunca tinha imaginado escrever minha própria música, e muito menos que ela seria rap.

Há um tempo atrás você mudou seu @ no insta. Por que o @ Bruxa Helena virou Nabru?
Muita gente não conseguiae me achar, além de que está tendo uma questão de registro. Porém eu sou a primeira Nabru e estamos lutando judicialmente por isso.
Quais personalidades te influenciam?
Milton Nascimento, Adélia Prado e Carlos Drummond de Andrade.
Escolha uma personalidade, viva ou morta, pra tocar contigo.
O Milton Nascimento.
Onde vai ser esse show?
Lá em BH, no Mineirão.
E por fim: qual o seu recado para a cena?
Melhorem.
Instagram: @nabruoriginal
VSCO: heleninha1998
Youtube: NabruHelena
Spotify: nabru
Soundcloud: nabru
Confira aqui outros trampos dela: Linktr Nabru
VEJA TODAS AS FOTOS AQUI
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