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Após meses sem dar as caras ao público, Tubo de Ensaio volta com surpresas

Banda faz show de retorno aos palcos em apresentação psicodélica e eclética.

21 de abril de 2023

Texto: 

@_.ilegas

Imagens: 

@httpaulo

Imagens: 

@isadorabtp

Psicodelia experimental

Eram meados de 2022 quando surgiu a Tubo de Ensaio, uma banda de música experimental que mistura diversos gêneros musicais. Indo de Radiohead ao jazz, busca criar composições psicodélicas e com letras, por vezes, non-sense. 

O fato de terem passado por várias mudanças de formação – com três trocas de baterista, baixista, adição de uma tecladista e, até mesmo, a saída de um vocalista – fez com que a banda passasse por muitos hiatos. No entanto, nunca pararam de se encontrar, seja em praças, rolês, ou na casa da tecladista Lorena para trocar ideias, letras e fazer algum som. 

A última pausa da banda foi devida à saída do vocalista, Ilegal. Pouco antes, o batera Pitoco já havia saído. Nesse meio tempo, arranjaram uma nova vocalista, Manu, que já participava de alguns ensaios como backing vocal. Além disso, desenvolveram uma antiga ideia de rotatividade de membros que, apesar de muito comum nos ensaios, nunca havia sido posta em prática nos shows. A soma desses dois fatores criou músicas novas e aperfeiçoou as antigas. 

Este caldeirão – ou melhor, tubo – de novidades teve sua estreia no dia 20 de abril, quando retornaram aos palcos.

Re-enraizados

Agachado em meio a fios, instrumentos e pedestais de microfone, Lorenzo, o guitarrista, configura seus múltiplos pedais de modo a criar uma sonoplastia densa. Das profundezas desse som escuro, vozes distorcidas podem ser ouvidas e, conforme ganham forma, compreendidas. Dizem: “Tubo de Ensaio”.  

Um tapping de guitarra introduz a música. O público é surpreendido por pequenas frases tímidas, curtas e soltas da flauta transversal de Frodo. Uma espécie de noise ecoa de fundo, criando uma atmosfera baixa e psicodélica. Um acorde aberto e brilhante de guitarra alivia toda a tensão e os demais instrumentos se sentem livres para começar. 

Synths, bateria quebrada e uma linha de baixo melódica armam a cama para a voz poder se deitar. Um coro fantástico e crescente repousa sobre o tecido macio da música. Em seu ápice, despenca em um rock pesado com viradas de bateria impressionantes. 

Um troca-troca interessante

A galera mal para de bater a cabeça e outra música já começa. Essa com uma melodia mais brincalhona, mas que é tomada por um frenesi inesperado. As transições abruptas fazem com que tudo que veio antes pareça um delírio, uma alucinação. 

Contudo, problemas de som fazem com que demore para começar. Nisso, Manu tenta adivinhar o signo da galera – e se sai muito bem. Distraídos pela astrologia, o som desponta. 

Numa retomada sentimental, executam a música que é dividida em duas partes. Essa "dualidade" se mostra uma característica padrão das composições da banda, e o público ama isso: ser pego desprevenido, divertindo-se com as piadas absurdas encaixadas no meio da letra ou logo após uma viagem astral. 

Mudanças

Com Bernardo de volta à sua casa de origem (a bateria), além de Ricardo, Ilegal participa do show. Ele faz sua pontinha dizendo aos berros o discurso de introdução de “Careca Noturno”, um funky grooveado cuja letra consiste em “Cuidado! Com o Careca Noturno”. É a faixa queridinha do público, que canta junto. Apesar de ter uma letra simples, a peça possui diversos momentos, sendo um deles destinado ao solo dos instrumentos. Na vez do sax, ele grita alto como buzina de navio para depois emendar no tema da música. 

Clássico em dose dupla

Multi-recursivos, multi-discursivos e ecléticos, os músicos se divertem no palco. A galera dança quando não está aplaudindo e ovacionando. Eventualmente são pegos de surpresa. agora, por um dodecafonismo – um jeito de se fazer música em que se usa uma série manipulável de 12 notas musicais –, com tempos difíceis executados na batera por Lorena, sobre uma taturana de patas brancas que, ao final da música, enlouquece em uma crise existencial sobre a repetição de suas ações (andar, comer, enfim, coisas de taturana) sem sentido. 

O show termina para a Tubo, mas não para o público que vorazmente pede um bis. Pitoco, então, sobe ao palco, senta na bateria e faz do retorno um reencontro. Todos que conhecem a banda sabem o que está por vir: Pedro Perneta, um punk rock que instaura o caos e o mosh naqueles que, até o início do mosh, estavam só se divertindo (e não brincando).

Uma conversa

Já na rua, a Tubo conversa com a gente. A banda se apresenta como um estilo de vida, no qual as pessoas entram e saem. Assim, o tempo em que cada um está na banda varia. Por exemplo, Manu, vocalista e tocadora de kazzo nos tempos livres, está há dois meses. Bernardo, que toca bateria, violão e guitarra, entrou em setembro de 2022. Já Frodo, que “alterna entre flauta transversal e sax”, e Lorenzo, guitarrista, estão desde o início do grupo, em abril de 2022. 

Os outros membros são Pacu, que entrou para a banda convidado por Frodo, e hoje quando toca baixo toca alto; e Lorena, presente desde os primeiros ensaios como “tecladista, baterista, e tudo que você precisar”.  

Porém, os integrantes não são somente multi-instrumentistas. Individualmente, possuem gostos e influências musicais distintos que abrem portas para uma síntese musical – ou “essa loucura toda aí” – única.  “E divertida”, nas palavras de Mafra, um dos nossos correspondentes que veio de Maceió à São Paulo para, entre outras coisas, presenciar o retorno da Tubo de Ensaio. 

Aproveitando a rápida pausa na entrevista que o comentário de Mafra inicia, Frodo divulga o canal "Vídeos Batuta” que, dentre “muitas coisas que não prestam”, conta o cotidiano da banda de forma despretensiosa e regada, potencialmente, à muita droga, em especial, endógenos. 

Retornando ao tópico, perguntamos o porquê da rotatividade. Prontamente, Bernardo responde: “a galera que se sente aberta e confortável para tocar outra coisa, a gente deixa”. Manu completa dizendo que é legal ver a intimidade de cada um com cada instrumento. “Sabe? Essa multiplicidade, variar”. Por fim, Lorenzo anuncia que “em breve, estaremos testando com drum machine (bateria eletrônica)”. 

Após a entrevista se voltar contra o entrevistador, com Lorenzo perguntando “o que você achou do show?” e uma denúncia sobre a situação precária do local – do sistema de som, da acústica e até o fato de Lorena ter tocado a bateria “segurando a caixa com as coxa” – encerramos a conversa perguntando “ensaio ou show?” 

Duas respostas certas surgem: “show é uma desculpa para o ensaio” e “entre show e ensaio, eu prefiro Tubo de Ensaio”. E todos aplaudiram no final.

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