
Cobertura
Na última noite de Inferninho, Mundo Video e dadá Joãozinho transformaram o porão da Casa de Francisca em um laboratório sonoro, apresentando um EP recém-criado para um público que, com muito prazer, topou ser cobaia voluntária.
23 de agosto de 2025
Leuni Denoni (@faizkahx)
Lola Mend (@olhossdevidro)
O experimento começou com reagentes caóticos: riffs frenéticos, beats quebrados como ruídos de videogame. Era Gael Sonkin e Vitor Terra da Mundo Video despejando matéria bruta na mesa de controle. Mais adiante, dadá Joãozinho e sua banda traziam novas fórmulas com instrumentos de sopro e teclas além de guitarras e percussão, como quem escreve equações no quadro até encontrar o resultado certo.

Mundo Video em sua performance de O Que Nos Aproxima. Foto: Lola Mend
Primeiro um frenesi e uma vontade louca de pular, em seguida, um som sexy abre novamente a pista como se um líquido viscoso e suave se prendesse às suas mãos, quadris, pés e cabeça. Ao juntarem tudo num só teste, a mistura transbordou e um EP recém-criado, ainda quente, foi apresentado pela primeira vez naquela noite.

Dadá Joãozinho dando início à sua performance. Foto: Lola Mend
A gênese da parceria, no entanto, foi quase acidental. “Eu nem lembro direito como foi. Acho que o dadá vai ter que contar”, brincou um dos integrantes da Mundo Video. Dadá completa: “Foi por causa do Thiago, meu primo, que mixou tanto meu álbum quanto o deles. Eu ouvi e me surpreendi muito positivamente, porque eles fazem escolhas que eu também gosto, mas de um jeito diferente. Aí mandei uma mensagem e foi isso: bora”.
O “bora” virou um processo precário, mas divertido: músicas feitas em poucos dias, gravadas no quarto do Vitor Terra, a chuva do lado de fora interrompendo, camisas largadas pelo chão pelo calor. “A gente quis trabalhar rápido e sem medo, sem rococó. Foi direto, leve, divertido”, contou o grupo. O resultado acabou virando um EP, como eles descrevem, “intenso, mas de um jeito que estimula, não que desconcerta”.
Além do som, o trio também perseguiu imagens. Cartoons, suspense e detetives foram algumas das referências citadas na entrevista. “As músicas não falam de crime, mas existe uma tensão, como se algo tivesse acontecido e os detetives estivessem à espreita”, explicou dadá. O visual contou com fotos de Hick Duarte e figurino/direção de Juliana (@j.u.f.r.a), completando a atmosfera da trama audiovisual.
Essa tensão criativa também se conecta com a cena independente. “Quase não existe cena, essa é a real”, disseram. “É precário, difícil fazer as coisas girarem. Mas essa precariedade também influencia nossas escolhas, nos dá mais gana de inventar.”
Quando perguntamos sobre a cena independente brasileira aos artistas, dadá se prontificou a responder e os meninos da Mundo Video também concordaram. “Acho que estamos passando por uma grande crise de identidade, enquanto cenário ou geração, uma coisa burguesa, cafona pra caralho, tá ligado?” E a saída? A mistura social, encontrar outros espaços, outras pessoas. “A gente chega pra bagunçar essa parada, a gente não tem medo de misturar as coisas que a gente gosta, não tem medo de fazer música”.

Moshpit nas últimas músicas. Foto: Lola Mend
O público daquela noite foi o primeiro a provar a poção efervescente — e sobreviveu, mas não saiu ileso. O futuro? “Disco, muito disco, sempre. Isso pode esperar. Vai ter!”, garantem. Mas a sensação é de que cada encontro pode ser o último e, ao mesmo tempo, o início de outra explosão. Resta ao público acompanhar o próximo experimento e se deixar envolver pelas próximas faíscas.
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